Negócios do Esporte

Arquivo : março 2011

Caos no C13 já preocupa venda internacional do Brasileiro
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Erich Beting

O caos em que se transformou a negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro já respinga na venda de direitos internacionais do Brasileirão. Com o impasse, o Clube dos 13 não tem atendido às solicitações de empresas interessadas na aquisição dos direitos para países do exterior. Algumas já estão temerárias em conseguir negociar e, além disso, receber o sinal para a transmissão internacional.

Esse é apenas um dos reflexos do fim da negociação em conjunto dos direitos de transmissão do campeonato. Da mesma forma, a vitória da RedeTV! na licitação de hoje deve acabar tão logo termine a implosão do C13. Hoje, a entidade representa apenas 5 dos 20 times que jogam a Série A do Campeonato Brasileiro.

A desunião é ruim para todos. Até mesmo para quem vence uma concorrência sem representatividade.


O alerta do futebol italiano para o Brasil
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Erich Beting

Nenhum clube entre os 16 que ainda disputam a Liga Europa, e apenas a Internazionale com remotas chances de alcançar as quartas-de-final da Liga dos Campeões. O resultado dentro de campo dos times do futebol italiano reflete a desordem que o país vive na gestão de seus clubes.

Há 20 anos, a Itália era o centro do futebol mundial. O Campeonato Italiano tinha as grandes estrelas da bola (Maradona, Gullit, Van Basten, Baresi, Maldini, Careca, Matthäus e Klinsmann eram alguns dos craques que jogavam no Calcio), o país era sede da Copa do Mundo de 1990 e vivia uma ebulição com a reforma e construção de estádios. Nada parecia dar errado no país da Bota. A atratividade do Italiano fez com que o mundo inteiro se acostumasse a acompanhar os jogos do Calcio, eternizando os times de Napoli, Milan, Juventus e Inter na cabeça dos torcedores.

Hoje, porém, a Itália é a síntese da decadência na gestão do futebol. Enquanto Inglaterra e Alemanha sobram nos campeonatos da Europa e assistem a ligas com alta presença de público, alternância de campeões e fidelidade do consumidor, a Itália definha.

E esse talvez seja o maior sinal de alerta para a gestão do futebol no Brasil.

A época áurea do futebol italiano é, em muitos aspectos, similar ao momento atual do futebol brasileiro. Dinheiro muito alto injetado pelas emissoras de televisão, pouca preocupação com o conforto do torcedor e, principalmente, com o controle de gastos. Para piorar, o controle dos clubes dos Calcio pelas grandes famílias italianas tem feito com que pouco se altere nesse cenário. A Itália parece, hoje, ter parado no tempo, achando que o futebol seria eternizado naqueles já longínquos anos 80 e 90.

Não é mais possível pensar em futebol saudável do ponto de vista financeiro sem o torcedor ser colocado como o principal cliente de um clube. É ele quem garante a geração de receitas e, com isso, possibilita às equipes formarem times vitoriosos. Foi esse raciocínio que alavancou o Manchester United nos anos 90 e que puxou a fila de recuperação do futebol inglês, hoje detentor da liga mais poderosa da bola. Até mesmo os multimilionários que tomaram conta de parte dos clubes da Inglaterra sabem que o segredo do sucesso passa em dar um tratamento diferenciado ao torcedor.

Na Alemanha, a revolução começou há cerca de dez anos, com o início da reforma dos estádios para a Copa do Mundo. O alemão percebeu que o futuro da Bundesliga está na melhoria dos estádios e do oferecimento de bom espetáculo para a torcida. O Schalke 04 já carimbou vaga nas quartas-de-final da Liga dos Campeões, e o Bayern, finalista da temporada passada, está muito próximo de eliminar a atual campeã.

Além disso, a boa performance alemã nas competições europeias fará com que o país, a partir do ano que vem, passe a ser agraciado com mais uma vaga na Liga dos Campeões. Não à toa, foi a Itália quem perdeu essa vaga que migrou para o futebol alemão.

O Brasil fará, em dois anos, seu maior evento de futebol na história. Reformará e construirá estádios, o que trará mudanças no relacionamento com o torcedor no futuro. Só que temos de olhar se queremos ser uma Itália ou uma Alemanha. Estádios modernos só darão certo com conceitos modernos de gestão. Do contrário, nada mudará na estrutura do futebol do país.


Supermercado leva carrinho de compras para corrida de rua
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Erich Beting

Da série “não basta patrocinar, tem de ativar”, a cidade de São Paulo terá neste final de semana uma ação interessante da rede de supermercados Walmart na prova que abre a temporada 2011 do Circuito de Corridas Corpore. Para quem não sabe, a Corpore é a maior organizadora de provas de corrida de rua na cidade que mais realiza eventos desse tipo.

O Walmart decidiu realizar, paralelamente ao evento, uma corrida de 100m em que o prêmio para o vencedor é um carrinho de compras recheado de produtos com a marca própria da rede. Em meio ao palco montado para receber o evento, a prova será realizada com as pessoas correndo levando o carrinho de rua pela distância de 100m. Aquele que percorrer o caminho no menor tempo, leva o prêmio.

A iniciativa é bacana. Faz com que a marca não passe como “mais uma” dentre os patrocinadores da prova. Num mercado em que a Corpore organiza mais de 50 provas ao ano, é uma forma de não ser mais do mesmo. E, também, com o agravante de chegar com muito atraso em relação aos concorrentes (o Pão de Açúcar tem quatro provas próprias em todo o país e investe desde o início dos anos 90 nas provas de rua), é uma forma de tentar dar um diferencial para o corredor.

O único risco, porém, é a saturação do mercado. Do jeito que as corridas de rua já estão virando lugar-comum no mercado paulistano, conseguir ser diferente está cada vez mais difícil.


Copa monopoliza receitas da Fifa
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Erich Beting

A Fifa divulgou nesta quinta-feira o seu balanço financeiro do último ciclo da Copa do Mundo. Em resumo, a competição é responsável pela geração de quase 90% das receitas da entidade. Dos US$ 4,2 bilhões arrecadados nos últimos quatro anos, US$ 3,7 vieram da competição.

A força da Copa é impressionante. Apesar de realizar diversos outros campeonatos, a Fifa se sustenta graças ao torneio entre seleções. E, dentro das receitas da Copa do Mundo, o que mais faz a diferença é a TV. Mais de US$ 2 bilhões vem da venda de transmissão para todo o mundo do campeonato, sendo que a Europa banca metade dessa conta.

Porém, de tudo isso que a Fifa arrecadou, apenas US$ 348 milhões foram distribuídos para as 32 seleções participantes do Mundial. Se a moda brasileira pega, imagine o impasse que haveria pela venda de direitos de TV da Copa de 2014?


O exemplo é o basquete
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Erich Beting

Toda a infrutífera discussão entre clubes, Globo, Record e Clube dos 13 poderia ser evitada se o futebol brasileiro olhasse o exemplo que vem do basquete. Em 2005, com o racha entre clubes e CBB, uma parte dos times que disputavam o Nacional de basquete decidiram criar um torneio paralelo.

A CBB não reconheceu oficialmente a NLB (Nossa Liga de Basquete), que era liderada “apenas” por Oscar, Hortência e Paula, três dos maiores ícones do esporte da bola laranja no país.

O resultado foi que, durante três anos, o basquete brasileiro encontrou um impasse. O racha foi necessário para tirar das mãos da CBB o desmando sobre o Nacional, mas levou para a lona um dos esportes mais populares do Brasil.

Hoje, sob a batuta da LNB (Liga Nacional de Basquete), que é comandada pelos clubes, a modalidade conseguiu buscar novos patrocínios, um acordo de TV que antes não existia e trabalhar para fortalecer cada vez mais a competição.

O futebol é extremamente forte e sem dúvida não sofrerá tanto quanto o basquete com ausência de patrocínio e de televisão interessada em transmitir seu campeonato. Mas seria uma ótima oportunidade olhar o exemplo do basquete antes de cada um querer sair correndo preocupado em seu próprio umbigo.


CBF pode dar palavra final sobre TVs
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Erich Beting

Está no Regulamento Geral de Competições do futebol brasileiro:

“Art. 89 – A transmissão de TV das partidas das competições, de forma direta ou por video-tape, só poderá ser realizada mediante prévia e expressa autorização da CBF, salvo se o assunto estiver formalmente definido através de contrato firmado entre as partes legitimamente envolvidas.”

Com o imbróglio entre os clubes longe de um fim, o caminho está aberto para que a CBF passe a dar a palavra final sobre todo o enrosco no qual se encontra os bastidores da política do futebol brasileiro. O problema é juridicamente entender o que pode vir a significar “entre as partes legitimamente envolvidas”.

Em março de 2009, a FBA (Futebol Brasil Associados), que cuidava da gestão comercial da Série B do Brasileirão, foi destituída da função pela CBF que, de uma hora para outra, passou a ser única responsável pela comercialização do campeonato. Não havia nem sombra do racha atual que paira sobre o Clube dos 13.

O caminho para o C13 deixar de existir está mais do que aberto. O enrosco causado pelas TVs é só o motivo encontrado para isso. Resta saber se a atitude viria a ser tomada ainda este ano, ou se a CBF esperaria terminar o atual contrato em vigência do Brasileirão.

Independentemente do caminho a ser tomado, perdem os clubes, que ao seguirem sem um conceito coletivo de negociação, perdem força de barganha com as TVs e ficam sem saber como será 2012. Até mesmo eventuais patrocinadores do campeonato do ano que vem colocam, hoje, o pé no freio. O problema é que a verba está disponível. E, se uma definição não aparecer, vai tomar outro destino.