Negócios do Esporte

Arquivo : agosto 2012

A nova camisa do Palmeiras e a nova atitude no futebol brasileiro
Comentários Comente

Erich Beting

A Adidas resolveu criar uma história diferente para apresentar a nova camisa do Palmeiras. Inovou ao colocar um carro-forte “protegendo” o novo uniforme e permitiu que, durante 15 segundos, torcedores entrassem no veículo para conhecer o fardamento, que será apresentado finalmente ao público nesta sexta-feira, num evento no horário de almoço na avenida Paulista, uma das mais movimentadas da cidade de São Paulo.

ALELUIA!

Finalmente as marcas estão conseguindo convencer os clubes a abandonaram a presepada de “desfile de apresentação” do novo uniforme. Historicamente sempre foi assim. Jogadores e modelos, dentro das dependências do clube, desfilam num evento fechado para os conselheiros do clube e jornalistas. Antes disso, invariavelmente, a camisa “vazava” para o torcedor por meio de grandes veículos no dia em que o lançamento era feito nessa festa para poucos.

Em 2007, a fabricante alemã também “apresentou” a camisa verde limão do Palmeiras num evento para 500 torcedores que compraram o uniforme previamente e foram conhecê-lo numa foto oficial na arquibancada do Palestra Itália. Na ocasião, porém, o que tinha de conselheiro aparecendo na foto…

Na Europa, a apresentação de uniforme do clube é marcada pelo inusitado, por aquilo que geralmente “choca” o torcedor e que não fica restrita ao ambiente do clube. Recentemente, a mesma Adidas fez uma ação muito legal com o torcedor do Ajax, na Holanda. O torcedor comprava a camisa na loja e era surpreendido quando ia tirar uma simples foto de recordação do momento (veja mais ao final do post).

Com certeza ainda chegaremos nesse patamar. Para as marcas, fazer algo diferente para o torcedor é a razão de ser de um patrocínio. É o momento em que a paixão se reforça e que o consumidor fica mais próximo da empresa que patrocina o seu clube. Abaixo, é possível conferir a ação da Adidas com o Ajax e a que foi feita com o Palmeiras nos últimos dias.

A ação com a nova camisa do Ajax…

… e a feita para o torcedor palmeirense.


A Conmebol ataca outra vez!
Comentários Comente

Erich Beting

Quarta-feira, dia 22 de agosto de 2012. Universidad do Chile e Santos se enfrentam pela final da Recopa Santander Sul-Americana, em partida disputada em Santiago. No mesmo horário, Botafogo e Palmeiras decidem, no Rio de Janeiro, um dos classificados para as oitavas-de-final da Copa Bridgestone Sul-Americana.

O resultado, para moradores de São Paulo e Rio de Janeiro, era óbvio. TV aberta com o duelo brasileiro pela Sul-Americana, enquanto o torcedor santista tinha de buscar a TV por assinatura para conseguir acompanhar o empate do Peixe contra “La U”.

Se ainda fossem entidades distintas que organizassem as duas competições, até poderíamos aceitar a “coincidência”. Mas vindo da mesma organizadora dos dois torneios, é simplesmente desesperador ver o nível que anda a gestão esportiva na América do Sul. Isso para não entrar no mérito de que a final da Recopa acontece depois que o campeão da Santander Libertadores do ano corrente já foi definido.

O fato é que a Conmebol, que já é mestre em não exigir dos detentores dos direitos de transmissão de suas competições que exibam as partidas decisivas dos torneios, atacou mais uma vez. Conseguiu marcar para o mesmo dia e horário a final de um de seus torneios e uma fase de classificação de outro.

Quando muita gente não entende porque se fala que um Neymar, um Oscar ou um Lucas devem jogar no exterior, é exatamente por motivos como esse. O atleta ir para a Europa não representa apenas a possibilidade de ganho esportivo. Ao cruzar o oceano, ele terá de aprender a se posicionar num outro nível.

É só perceber que, quase sempre, o jogador brasileiro que consegue fazer uma grande carreira na Europa volta num outro patamar para o Brasil. O grau de profissionalismo, a forma como ele trabalha o relacionamento com o clube e a maneira como se comporta, entendendo muitas vezes que seu papel vai muito além das quatro linhas.

Qual a chance de um atleta evoluir para um estágio maior de profissionalismo quando se tem exemplos de gestão como os da Conmebol ou de uma CBF?

O caminho para manter os ídolos em atividade dentro do Brasil não é só a economia do país melhorar e, dessa forma, ter mais recursos para manter os atletas. Ele passa, obrigatoriamente, por uma melhor preparação da indústria do esporte para evoluir como negócio. Definitivamente não será marcando dois jogos de competições diferentes num mesmo dia e horário que vamos evoluir.


O PES-2013 mostra a falta de visão do futebol no Brasil
Comentários Comente

Erich Beting

A Konami apresentou ontem para o mercado o Pro Evolution Soccer 2013. O jogo de videogame contará, pela primeira vez, com os 20 times da Série A do Campeonato Brasileiro (leia mais detalhes aqui). A presença das equipes brasileiras é uma tremenda evolução competitiva para a Konami no mercado nacional, algo que a empresa tem buscado nos últimos três anos, quando passou a olhar para o público brasileiro com mais carinho com o início da transmissão dos jogos com o narrador Silvio Luiz.

Mas é simplesmente vergonhoso saber, pela própria Konami, que o acordo com todos os 20 times da Série A do Brasileirão só foi obtido um dia antes da apresentação do jogo para o público. Sim, é isso mesmo! Foi preciso que os executivos da empresa negociassem com cada um dos 20 clubes separadamente para que as equipes fizessem parte do game.

Quando discutimos aqui no blog o tiro no pé que os clubes brasileiros estavam dando ao abandonarem a negociação coletiva com a televisão para partir para acordos individuais, muitos discutiram que todos só tinham a ganhar. O caso da Konami, porém, só reforça o quanto os clubes perdem oportunidades exatamente por não terem uma entidade que represente os interesses comerciais deles.

O que os dirigentes raramente percebem, e isso é um fenômeno mundial, é que clubes de futebol são concorrentes apenas dentro de campo. Fora deles, não há qualquer hipótese de um clube ganhar consumidor do outro. O raciocínio é simples. Quando um torcedor vai consumir um produto de um time rival?

O caso da Konami só reforça isso. Imagine o quão trabalhoso é, para a empresa, negociar com 20 clubes diferentes quando poderia chegar a uma entidade e fechar um negócio diretamente?

Bom, resolvido esse problema, entramos em outro, que interfere, no longo prazo, no potencial de geração de receitas do futebol. Ao ficar na base do “cada um por si”, o Brasil perde uma excelente oportunidade de construção de uma marca para o futebol do país. E esse é o ponto básico de revolução comercial dos principais eventos esportivos do mundo.

O grande mote para o sucesso comercial dos Jogos Olímpicos, por exemplo, são os aros que simbolizam as Olimpíadas. Da mesma forma, a taça da Copa do Mundo é um objeto que identifica o torneio e faz com que a marca seja desejada pelos consumidores. Para quem comprar o PES-2013, já na seleção das ligas nacionais poderá ser visto o assombro que é o Campeonato Brasileiro não ter nem ao menos um logotipo que identifique a competição.

O dinheiro da TV tem turbinado, e muito, o cofre dos clubes. Mas, há mais de uma década, os principais times de futebol do mundo perceberam que mais valiosa que a verba da televisão é o potencial de geração de receitas que vem do consumo do torcedor. E isso passa, necessariamente, por estruturar negociações conjuntas de marketing.

Imagine a gama de produtos que poderiam ser geradas do Campeonato Brasileiro de futebol? O mercado de videogames é um dos mais promissores e desejados pelas marcas em todo o mundo. Afinal, os games falam prioritariamente com um público jovem e de alto poder aquisitivo.

Qual seria o poder de barganha dos clubes numa negociação coletiva com a Konami? Há cinco anos, um racha parecido na negociação dos direitos de produção dos álbuns de figurinhas dos clubes gerou um impasse que simplesmente acabou com o álbum do Brasileirão.

Os clubes continuam a se enxergar como uma vitrine expositora de produtos (e, no caso, esse produto é o jogador de futebol), em vez de perceberem que são, na verdade, o próprio produto em si. Por isso mesmo continua a velha reclamação de que falta dinheiro no caixa e, pior, há poder demais concentrado na televisão. O cenário só vai mudar quando aceitar-se o óbvio. Acima de qualquer clube está a competição que ele disputa, assim como acima de qualquer atleta está o clube que ele representa.


O duelo das concorrentes na Copa de 2014
Comentários Comente

Erich Beting

Adidas x Nike; Visa x MasterCard; Oi x Vivo; Kia-Hyundai x Volkswagen. A Copa do Mundo de 2014 reserva quadro duelos mais do que especiais entre essas empresas de diferente campos de atuação que, não por acaso, são os quatro segmentos de mercado que mais impulsionam os patrocínios esportivos pelo mundo. Com a MasterCard anunciando o patrocínio à CBF, o duelo fica acirrado nas áreas de material esportivo, cartão de crédito, montadora e telefonia celular.

O cerne de todas essas disputas é a maneira como cada uma dessas empresas vai comunicar o patrocínio esportivo que tem. De um lado estão os patrocinadores oficiais da Fifa (Adidas, Visa, Oi e Kia-Hyundai) e do outro, os da CBF (Nike, MasterCard, Vivo e Volkswagen).

Nas disputas entre marketing de emboscada e do patrocinador oficial, que tanto bati na tecla durante as Olimpíadas de Londres, o que mais veremos nos próximos dois anos é exatamente isso.

E a pergunta que fica, e que deveria nortear toda a estratégia de comunicação de cada uma dessas marcas, é simples: qual propriedade tem mais valor? A Copa do Mundo ou a seleção do país-sede da Copa?

Para quem quiser fisgar o consumidor brasileiro, sem dúvida alguma que a seleção brasileira será sempre maior do que a Copa. E isso deverá fazer com que cada uma das empresas adote uma estratégia local possivelmente diferente da global para comunicar os seus patrocínios.

A certeza é que teremos pela frente dois anos de divertidas batalhas.


Após Jogos, Londres terá canal com esportes “lado B”
Comentários Comente

Erich Beting

O nome já deixa claro. “London Legacy” é um canal de esportes que deverá ser lançado em novembro próximo pela empresa Highflyer Group. O objetivo é abrir espaço para aquilo que os ingleses chamam de “lado B” dos esportes. Ou seja, aquelas modalidades que não estão o tempo todo na telinha e que mostraram, nos Jogos Olímpicos, potencial para justificar a criação de um canal de TV que acompanhe esses esportes.

A ideia é que modalidades como judô, atletismo e ginástica tenham mais espaço na programação esportiva. Segundo John Fairley, responsável pela iniciativa, já existem três patrocinadores interessados em bancar os custos de quase 6 milhões de libras para implementação do projeto.

Uma das discussões levantadas pelo blog durante as Olimpíadas era a da falta de cultura do inglês em acompanhar diferentes modalidades esportivas. Mais ou menos como o brasileiro, em que há um massacre do futebol na grande mídia, o britânico também sofre para acompanhar outros esportes na televisão.

As Olimpíadas serviram como uma espécie de alento e, mais do que isso, de inspiração para mostrar que é possível ganhar dinheiro transmitindo competições esportivas “alternativas”. Essa talvez fosse a maior dúvida do mercado, tanto que a ideia do canal “London Legacy” é aproveitar a brecha deixada pelas grandes emissoras, que continuam com o foco nos programas de maior audiência e, consequentemente, maior retorno publicitário.

E o que impede uma repetição disso no Brasil para, sei lá, novembro de 2016?

O maior entrave, a meu ver, é a já enorme oferta de canais de esporte que temos. Sim, reclama-se muito que falta divulgação dos esportes no país. Mas não podemos dizer que faltam opções. São pelo menos cinco emissoras dedicadas exclusivamente ao tema (ESPN, Sportv, BandSports, Esporte Interativo e FoxSports) e ao todo pelo menos oito canais (sem colocar na lista o ESPN+ e um eventual quarto canal do Sportv). Fazendo uma conta pelo alto, o dia esportivo na TV brasileira pode chegar a quase 200h de programação.

Como abrir espaço dentro do mercado publicitário para custear mais um canal com temática esportiva? Sobra dinheiro no bolo das empresas para isso? Sinceramente, acho difícil.

O caminho para mudar isso, então, tem de partir do esporte. Dentro dessas infindáveis horas disponíveis na televisão para mostrar o esporte, porque vemos produtos relativamente desinteressantes entrarem na grade em detrimento de um conteúdo nacional? Pode parecer engraçado, mas infelizmente é mais fácil (e infinitamente mais barato) exibir um programa de meia hora com o que de melhor aconteceu no Campeonato Português do que um especial de meia hora sobre a Superliga de vôlei.

O esporte no Brasil não se enxerga como produto de mídia. Sirvo-me, aqui, da definição que a NBA (liga de basquete dos EUA) usa para o que ela representa: “A NBA é uma empresa de esportes e mídia que apresenta 3 ligas profissionais de basquete: a NBA, WNBA e a D-League”, diz o texto que consta na página da NBA.

O discurso do pobre coitado que o esporte adora adotar no Brasil reforça, ainda mais, a falta de oportunidade para o crescimento dos demais esportes além do futebol. Em vez de reclamar que ninguém dá suporte, por que os gestores e atletas não passam a entender o que de fato são como produto?

Precisaremos nos assombrar com o alcance de mídia de uma Olimpíada dentro de nosso país para perceber que dá para consumir mais esportes além do futebol. Mas será improvável ter espaço para mais um canal dedicado exclusivamente a esportes no Brasil em 2017. O caminho para que mais esportes entrem na grade de programação das emissoras passa, necessariamente, pela mudança de comportamento dos gestores e dos atletas. E, para isso acontecer, não precisamos dos Jogos Olímpicos.


Ressaca olímpica
Comentários Comente

Erich Beting

Confesso que esperava menos tempo de ressaca. Nas duas últimas Copas do Mundo bastaram uns dois ou três dias para que voltasse à carga com o consumo de esporte depois de um megaevento. Mas já faz uma semana de volta à realidade brasileira e, a não ser por dever de ofício, voltei a acompanhar as novidades das diferentes modalidades no Brasil e no mundo.

A ressaca pós-grande evento é absolutamente natural. Mas sinceramente acho que desta vez ela é maior porque não tem mais o que fazer, discutir ou pensar. A partir de agora, a bola está no Brasil e o relógio faz um tic-tac cada vez mais apressado.

Estive em Londres dois anos e meio antes de as Olimpíadas começarem. O Parque Olímpico ainda tinha muito entulho, mas já era uma realidade palpável. As linhas de trem e metrô já chegavam a Stratford, o estádio Olímpico estava pela metade, o velódromo tinha acabado de ficar pronto, as vias de acesso ao público dentro da região do parque já estavam desenhadas e o projeto de entregar após os Jogos o maior parque da Europa em 150 anos era o que balizava todo o investimento de quase R$ 30 bilhões nas Olimpíadas.

Hoje, são menos de dois anos para a Copa do Mundo. Os aeroportos estão praticamente na mesma, a ampliação de meios públicos de transporte para os eventos é quase inexistente e ainda há muitas dúvidas sobre o futuro das instalações pós-evento. Em relação aos quatro anos pré-Jogos do Rio de Janeiro, o próprio Comitê Olímpico Internacional já disse que a Cidade Maravilhosa precisa urgentemente definir o orçamento para organizar o evento.

O abismo entre os dois mundos choca. Talvez essa seja a pior sensação pós-Londres. Até para um otimista incorrigível como sou, bate aquela incerteza sobre o que esperar do Brasil dos megaeventos. Afinal, ainda tratamos a organização de Copa do Mundo e de Jogos Olímpicos como organizar uma festa de Reveillón, uma etapa da Fórmula 1 ou um belo Carnaval. Só que na prática são eventos muito mais complexos e que necessitam de uma estrutura que, talvez, não estejamos preparados ainda para suportar.

Preparo técnico, nessas horas, sinceramente é o de menos. Será impossível para o Brasil ter apenas um dia de Olimpíada sem um medalhista em 2016 (como foi o Reino Unido este ano), ou então ficar entre os cinco primeiros do ranking (como geralmente se posicionam os países-sedes).

Isso não é motivo para termos vergonha, apenas para rediscutirmos a função do Comitê Olímpico Brasileiro enquanto capacitador dos formadores de atleta no Brasil e do próprio governo como facilitador da prática de atividade física.

O buraco está mais embaixo e, particularmente, não acho que envolva o esporte necessariamente. Precisamos mostrar que realmente somos uma nação preparada para ser protagonista mundial. Que é a quinta maior economia do mundo tendo excelência em serviço, atendimento ao cidadão, civilidade.

Como estão andando as coisas, faremos uma Copa e uma Olimpíada bem ao estilo que tanto marcou o Brasil nas últimas décadas. Com muita alegria e charme, mas sem o grau necessário de profissionalismo que eventos desse porte exigem. É nessas horas que qualquer comparação com Londres faz bater uma ressaca olímpica.

Espero, como cidadão brasileiro e profissional que atua com o esporte no país, queimar a minha língua de forma jamais vista. Mas uma semana depois de voltar de Londres, continuo com aquela sensação de que era melhor ter parado por ali antes de extrapolar na dose…


Em Londres, artista cria tênis para Dilma Rousseff simbolizando o Rio-2016
Comentários Comente

Erich Beting

Um tênis que simboliza a transição dos Jogos Olímpicos de Londres para os do Rio de Janeiro, em 2016. Essa é a inspiração que o artista brasileiro Loro Verz teve para criar um presente a ser entregue para a presidente Dilma Rousseff. A obra faz parte do trabalho que o artista fez durante 15 dias nas Olimpíadas, quando customizou 16 pares de tênis para serem entregues a personalidades brasileiras e que marcassem a experiência de Loro com os Jogos.

O blog teve acesso exclusivo às imagens do par que será entregue para a presidente Dilma Rousseff. Segundo Loro Verz, a ideia é reforçar a brasilidade na arte, mas também mostrar que as Olimpíadas, agora, estão com o pé no Brasil. Durante os Jogos de Londres, Verz e mais cinco artistas britânicos fizeram arte em cima dos tênis usados pelos atletas patrocinados pela Adidas nas Olimpíadas.

O trabalho mostra o quanto, para os próximos anos, a tendência é que as marcas esportivas unam-se à arte para ampliarem a exposição do esporte e, principalmente, aproximá-lo do público jovem. Em Londres mesmo, essa foi uma tendência, com a Adidas contratando artistas renomados, além de outras marcas usando a arte para comunicar o esporte a um diferente tipo de público. As próprias cerimônias de abertura e encerramento foram uma mostra dessa junção.

Confira abaixo, com exclusividade, as fotos do tênis criado para a presidente Dilma Rousseff pelo artista Loro Verz.


A monstruosa diferença entre duas medalhas
Comentários Comente

Erich Beting

“Vocês vão ter de me engolir”. “Treinar para quê?”. “É a malandragem do futebol brasileiro”. Pesquei aqui, no calor da emoção, três das frases que mais me irritam quando queremos estereotipar o esporte mais popular do país.

Quando o assunto é o futebol, o brasileiro torna-se o torcedor mais soberbo que existe. Nunca há, na concepção da torcida, um time mais capaz do que o Brasil. Afinal, é a seleção do talento, da inventividade, da criatividade, do talento individual que faz a diferença.

Acabamos de acompanhar aquela que talvez tenha sido a conquista mais bonita do esporte coletivo brasileiro em Jogos Olímpicos. O bicampeonato do vôlei feminino de quadra é exatamente a antítese do pensamento que infelizmente corrói o futebol no Brasil. A vitória sobre o time dos Estados Unidos, de forma aniquilante, foi daquelas de contar para filhos, netos, bisnetos e encher os olhos de lágrimas.

E é por isso que há um abismo entre o ouro do vôlei e a prata do futebol.

O ouro do vôlei é a vitória do trabalho, do planejamento, da gestão de equipe, da mudança de rumo no meio do caminho para ajustar as coisas, da conquista vinda a partir do estabelecimento de metas e esforço para cumpri-las. O talento ajudou, como em pelo menos três lances fabulosos de Sheila, mas a vitória só veio porque houve trabalho, e sério, para isso.

José Roberto Guimarães é a síntese de que, trabalhando, alcançamos nossos resultados. É inconcebível, sinceramente, aceitar a frase pré-Olimpíadas de Mano Menezes de que o México foi o time que mais bem se preparou para os Jogos. Ora, por que não foi o Brasil? Ou será que na criatividade de um Neymar ou de um Oscar resolveríamos os nossos problemas?

O abismo é gigantesco. Zé Roberto treinou, mudou o posicionamento de jogadoras, cortou a Mari, reformulou o time a poucas semanas da competição e conseguiu alcançar o objetivo. Não dá para imaginá-lo dizer que “os Estados Unidos se prepararam melhor para os Jogos”. Assumir uma atitude dessas, em qualquer profissão, é inaceitável. Ainda mais no esporte, em que o treino e a preparação são fundamentais para gerarem resultados.

Quando muito discutimos por aqui o Brasil dos megaeventos, sempre surge a crítica de que não temos capacidade para realizar essas competições, de que haverá roubalheira, de que tudo será no “jeitinho” e assim por diante.

O tricampeonato olímpico de Zé Roberto poderia servir de exemplo para aprendermos que “jeitinho” pode ser visto não como uma forma de improvisar e mesmo assim obter resultado, mas que é mudar o rumo quando percebemos que aquilo não vai dar certo (como no caso dos cortes pré-Londres ou na saída de Paula Pequeno do time titular durante o jogo com a China).

O maior ensinamento que tiro até agora dos Jogos de Londres e da experiência prévia na Copa da Alemanha em 2006 é de que, para o país ser bem-sucedido nos megaeventos, temos de ser mais Zé Roberto. Planejar, executar, trabalhar. Achar que “no final dá certo” é abrir margem para que o improviso absorva toda capacidade de geração de benefícios com Copa e Olimpíada no Brasil.

O relógio já está correndo faz tempo. Precisaríamos, agora, não de um Zé qualquer na cabeça desses desafios. Pena que ainda achamos que o talento é capaz de solucionar nossos problemas.

Seria uma importante mudança cultural para um país que tem a certeza de que pode ser protagonista mundial.


A emboscada permite mais engajamento com o público
Comentários Comente

Erich Beting

Ser patrocinador oficial é legal e garante diversas propriedades para uma empresa. Mas será que o investimento que é feito apenas para ter o direito de ser um patrocinador de um grande evento vale realmente o quanto se paga por ele?

Os principais patrocinadores do Comitê Olímpico Internacional aportam cerca de US$ 300 milhões por ciclo olímpico só para poderem associar suas marcas ao valiosíssimo aro olímpico. Isso lhes garante muita coisa, inclusive trancar o seu segmento de atuação para outras marcas.

Só que a vida de quem é patrocinador oficial também é dura. Qualquer ação que ele queira fazer passa, invariavelmente pelo crivo do organizador do evento. E, caso não conte com a bênção de um COI ou de uma Fifa, esse patrocinador perde a chance de fazer algo que teria um ótimo poder de sedução para o consumidor mas que fere os interesses do dono da brincadeira.

E talvez esse seja o grande aprendizado tirado aqui de Londres por algumas empresas. Afinal, os projetos “oficiais” pouco têm, de fato, de algo que seja proibido de fazer se a empresa não fosse patrocinadora dos Jogos. A P&G valorizou a mãe dos atletas; a Visa tem Usain Bolt como garoto-propaganda; o Lloyds Bank investe em projetos para formação de atletas pela Inglaterra… E por aí vai.

No fim das contas, a maior diferença para o patrocinador é poder estar presente dentro das arenas para fazer uma comunicação direta com o público que visita o Parque Olímpico. Para quem vende produtos, obviamente o resultado é melhor, já que a empresa é a única autorizada a fazer a venda direta para o consumidor.

Só que quem não é oficial dos Jogos tem a chance de expor seu conceito na mídia, nas áreas públicas de convívio das pessoas e com uma linguagem que não pode envolver apenas as nomenclaturas oficiais do evento. Com o mínimo de criatividade um trabalho espetacular e marcante pode ser feito.

“Quando pensamos em alguém com 14 a 20 anos de idade, quando você não é um patrocinador oficial, pode fazer coisas mais audaciosas que acabam motivando mais esse jovem”. A frase é de Simon Cartwright, vice-presidente da Adidas (patrocinadora oficial das Olimpíadas de 2012) e responsável pela elaboração do projeto da marca para Londres.

Geralmente, as empresas patrocinadoras oficias de um evento têm como motivo da comunicação a competição em si, pelo qual ela desembolsa milhões. As marcas que ficam à margem disso buscam o consumidor para se comunicar, tendo como mensagem subliminar o evento que todo mundo sabe que está acontecendo. E isso, no final, pode gerar um maior engajamento do público com aquela empresa.

Para quem quiser conferir um pouco mais do bate-papo com Simon Cartwright é só clicar aqui.

* O blogueiro viaja a convite da Adidas


Caloi mostra a falta de conhecimento das empresas com as Olimpíadas
Comentários Comente

Erich Beting

Como já temos discutido há alguns meses aqui no blog, a realização de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos no Brasil nos próximos anos vai obrigar que o esporte no país se profissionalize como um todo. E tivemos exatamente esse exemplo vindo de um vídeo que a Caloi fez para marcar a parceria com o projeto LiveWright e a pretensão de montar um forte time de ciclismo para 2016.

A empresa criou o conceito “A medalha sua”, dizendo que para conquistar uma medalha é preciso suar a camisa. Até aí, nada de errado. O problema é o primário erro de dizer que a Caloi patrocina um projeto para buscar a “primeira medalha do ciclismo brasileiro nos Jogos Olímpicos Rio 2016”.

Como não é patrocinadora da competição, a empresa não pode se apropriar do nome do evento. É básico. E assusta ver que uma empresa que trabalha com o esporte não está preparada ao menos para saber o básico quando o assunto é tão importante quanto esse. Abaixo está o vídeo que a marca lançou no Youtube.