Negócios do Esporte

Arquivo : julho 2014

Será que vamos aprender?
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Erich Beting

“Assistimos hoje a uma aula de futebol”. Se estivesse em campo, o atacante Neymar muito provavelmente teria de recorrer novamente à frase usada após os 4 a 0 do Barcelona no Santos, lá em 2011. O Brasil tomou uma aula de futebol, que seria dada com ou sem o melhor jogador de uma seleção que sempre foi um punhado de individualidades e nunca um time formado.

Mas será que a humilhação desta terça-feira será suficiente para ajudar o Brasil a aprender?

Podemos bater no peito e dizer que não há nenhum outro pentacampeão, mas da mesma forma não podemos ficar nesse mesmo discurso por outras Copas.

Foi acachapante a forma como a Alemanha dominou o jogo. Não foi um acaso, não foi o “apagão” que Felipão tentou mais de uma vez convencer de que seria o motivo da derrota.

Os alemães repensaram a maneira como jogavam futebol há 12 anos. E construíram uma geração que joga de outra forma, coletivamente, preocupada em defender e atacar em bloco. Da mesma forma, a Copa do Mundo de 2006 foi fundamental para repensar a relação com o torcedor do futebol.

Tudo isso fez a diferença nesta terça-feira.

O Brasil precisa, agora, rever não apenas os 7 a 1 para tentar entender o que houve dentro de campo. É preciso viajar para a Alemanha, conversar com os diretores da Bundesliga, com os gestores de estádio, com os patrocinadores, com a mídia. Saber por que o futebol alemão mudou tanto daquele 30 de junho de 2002 e o brasileiro regrediu tanto.

Daquela final em Yokohama, só Klose e Felipão estavam presentes agora no Mineirão. Klose por ser o único centroavante de área remanescente de um país que deixou de jogar da forma como sempre jogou. Felipão, por ser o único nome com mais respeito da opinião pública para garantir a bronca de evitar a pressão sobre uma seleção de jovens atletas.

O problema brasileiro é generalizado. Os 7 a 1 não são fruto de um apagão. Fazem parte de uma diferença abissal que existe hoje na gestão do esporte. Isso ficará claro quando, daqui uma semana, voltarmos a ter de acompanhar o Campeonato Brasileiro. Será que agora vamos aprender? O problema dentro de campo é reflexo do que acontece fora dele.

É óbvio, mas agora ficou muito mais claro.


Brasil conquista o maior legado da Copa
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Erich Beting

A Operação Jules Rimet, deflagrada pela Polícia Civil brasileira, pode ser considerada como o maior legado da Copa no Brasil. Ao que tudo indica, a polícia conseguiu chegar ao alto comando de um enorme esquema de cambismo de ingresso que já vem de outros Mundiais. Mais do que isso, começa a fechar o cerco contra uma prática que já foi comprovada no passado e que faz uma polpuda poupança para muita gente periférica do mundo da bola.

O interessante nessa história é que já se passaram tantos outros Mundiais, sempre houve um jeito aqui e ali para conseguir ingressos “quentes” a preços mais altos que o praticado, de forma quase que sub-oficial, e pouco se viu de interesse em desmontar esses esquemas.

A prisão do diretor da Match Hospitality Raymond Whelan, apontado como o chefão das vendas ilegais aqui no Brasil liga um enorme sinal de alerta dentro da Fifa. Ok, é possível dizer oficialmente que não há qualquer relação, a Match apenas presta serviços à entidade e quetais. Mas é sempre bom lembrar o vínculo da Match com a Infront que, por sua vez, tem como sócio um dos sobrinhos de Joseph Blatter, presidente da Fifa.

O enrosco é grande. E poderá desencadear em outra crise dentro da entidade, já às voltas com a enrolada escolha do Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022. Muito provavelmente o escândalo deflagrado pela polícia brasileira poderá gerar nova crise na Fifa. E fará com que o próprio sistema de venda de ingressos da entidade passe por revisão, a exemplo do que aconteceu em 1998, quando houve muitos problemas com cambismo e falta de bilhetes na França (inclusive com centenas de brasileiros nesse barco).

O fato é que o Brasil conseguiu, ao atirar com mira a laser na operação de cambismo de ingressos, construir um dos maiores legados da Copa do Mundo no país. Resta saber se, passado o holofote do Mundial, a polícia terá interesse também em descobrir as práticas semelhantes que são feitas nos jogos de futebol envolvendo clubes brasileiros…


Ibra destrona Ronaldo no papel de embaixador da Nike
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Erich Beting

Primeiro foi a campanha “Vem, Ibra”. Depois, a tiração de sarro com o atacante na animação divulgada pouco antes da Copa. Agora, a transformação do boneco animado num grande brincalhão neste Mundial. Aos poucos, a Nike vai preparando o sueco Zlatan Ibrahimovic para ser o novo Eric Cantona da marca.

Carismático, o atacante sueco do Paris Saint-Germain está se tornando um novo caminho para a Nike manter-se ativa entre o público jovem, tal qual foi com Cantona na década passada. Mas o mais curioso é ver que, aparentemente, Ibra está adorando o rótulo que a Nike começa a criar para ele.

O sueco parece estar sendo cunhado para assumir a função que competia a Cantona, atleta que fez sucesso em quem hoje está na faixa dos 30 a 40 e que, para o público mais jovem, principal objetivo da marca, não desperta praticamente nenhum tipo de emoção.

Com isso, caberá a Ibra, hoje próximo de completar 33 anos, ser o embaixador da Nike para o futebol no mundo todo, algo que naturalmente poderia ter sido aproveitado por Ronaldo ao aposentar-se do futebol.

A escolha pelo sueco e não pelo Fenômeno tem muito mais a ver com o perfil de cada um deles do que propriamente uma “falha” de um ou de outro. Ronaldo nunca teve comportamento de “Bad Boy”. Ele sempre foi mais um grande embaixador pela qualidade demonstrada dentro de campo do que pelas atitudes que tomava dentro e fora dele.

Ibra, por outro lado, sempre foi um centralizador de polêmicas, bem ao estilo da Nike. Agressivo, marrento, criador de caso, mas dono de um talento com os pés raro, o sueco parece ser perfeito para a função. E, se ainda não consegue ser tão bem atuando ao vivo, como é o caso de Cantona, a sacada de usar as animações foi ótima para isso. Nos desenhos, cria-se um Ibra tão irreverente quanto é preciso. E, melhor ainda, não precisa depender da agenda dele para “gravar” os comerciais.

Ao que tudo indica, Zlatan será pela próxima década o cara da Nike para falar de futebol. Uma pena para o futebol brasileiro que Ronaldo tenha ficado em segundo plano para esse posto…


O medo, agora, é o “Não vai ter copo”!
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Erich Beting

‘Não vai ter Copa” era parte do bordão estabelecido pelo país nos dias que antecediam o 12 de junho. Chegou o dia 12, a Copa não só teve como está um barato e, agora, o maior receio é o do “Não vai ter copo”. Pelo menos dentro dos 12 estádios que abrigam as partidas do Mundial, há um intenso corre-corre antes e pós-jogo para que os torcedores levem para casa o souvenir.

Até mesmo o uso do mercado paralelo tem ficado aquecido com a venda dos copos dos jogos.

Mas por que o copo virou um artigo de luxo?

Em 2006, pela primeira vez a Coca-Cola fez uma ação do gênero. Era possível, pagando 1 euro a mais, levar o copo da marca. Era um jeito de você ter um artefato ligado ao Mundial sem precisar gastar muito. Nas lojas oficiais, as camisas personalizadas do jogo eram encontradas por, no mínimo, 20 euros no saldão pós-jogo.

Em 2010, a ação dos copos não foi repetida, e as lojas oficiais da Fifa eram o único meio de se encontrar lembranças relativas a um jogo específico. Mais uma vez, a camisa tinha o preço salgado, na faixa dos 30 dólares.

Até que chega a Copa de 2014 e não apenas a Coca, mas também a Ambev, com as marcas Brahma e Bud, resolvem lançar copos personalizados, com inscrições alusivas às partidas em disputa. Ao custo de R$ 8 (refrigerante), R$ 10 (Brahma) e R$ 13 (Bud), é possível consumir a bebida e levar para casa o copo.

Naturalmente, os torcedores transformam o artefato em artigo de colecionador. E eles se tornaram, por incrível que pareça, a única forma, além do ingresso da partida, de você ter uma lembrança do jogo que esteve presente.

As lojas oficiais nos estádios estão abarrotadas de torcedores, mas raramente você os vê saindo com diversas sacolas de compras. Em compensação, os copos, uma lembrança que cabe muito mais no bolso, tem muito mais procura.

Por incrível que pareça, em vez de “Não vai ter Copa”, o receio maior, agora, é o “Não vai ter copo”…