Dois pesos, duas medidas
Erich Beting
Na terça-feira, uma festa para dezenas de milhares de torcedores. Dois dias depois, um evento teoricamente fechado para a imprensa, sem muito alarde. A diferença dos tratamentos dispensados por São Paulo e Corinthians nas apresentações, respectivamente, de Luis Fabiano e Adriano se justifica pela diferença de importância de ambos no cenário atual do futebol.
Luis Fabiano volta ao Morumbi com a expectativa de quem foi “o cara” da seleção brasileira nos últimos anos. Já Adriano vai para o Corinthians com a expectativa de ser “o cara” das confusões.
Não tem como fugir desse cenário, tanto que sabiamente o alvinegro optou por não tentar concorrer com o rival pelos holofotes e festejos de torcedores na apresentação de seu reforço. É bem da verdade que a diretoria do Corinthians relutou ao máximo, mas acabou prevalecendo o bom senso.
Só que os diferentes pesos e medidas, muito provavelmente, param por aí na contratação dos dois estrelados, mas envelhecidos, jogadores.
Desde a bola dentro corintiana com Ronaldo, no apagar de 2008, comecinho de 2009, que os clubes de futebol do Brasil acreditam ser “fácil” repatriar uma grande estrela para o seu time.
Esquecem-se os clubes, porém, que mesmo Ronaldo, talvez o maior ídolo do futebol nacional da última década, demorou a engrenar no Corinthians. E a demora, aqui, não é técnica, mas sim comercial. Os anunciantes “viram para pagar”. Antes de despejar milhões no clube, as empresas esperaram para ver se Ronaldo tinha ainda fôlego e poder de atração da mídia que justificassem o investimento.
Desde então, diversos clubes adotam o “milagre” do marketing como ferramenta para pagar a contratação de um grande astro. Luís Fabiano e Adriano, porém, não são personagens amplamente sacramentados no mercado anunciante. É só reparar que, na Copa de 2010, “Fabuloso” só estrelou a campanha guerreira da Brahma, enquanto Robinho anunciou para Samsung, Volkswagen e Seara. Adriano, em declínio técnico, nem sequer foi lembrado pelos investidores.
O primeiro passo dos dois times, porém, foi acertado. Luís Fabiano empolga a torcida do São Paulo a ponto de levar milhares na terça-feira à noite para o estádio do Morumbi (a bem da verdade, o clube não cobrou pela entrada). Adriano é tão incerto que já na entrevista coletiva para a imprensa causou confusão (não por interesse próprio, mas infelizmente essa é a sina do “Imperador” nos últimos anos).
O melhor marketing para os dois, agora, é entrar em campo e fazer gols. Esperar um novo Ronaldo é tarefa mais do que improvável. O peso do Fenômeno, literalmente, é outro.