Negócios do Esporte

Arquivo : novembro 2013

O espetáculo do Bom Senso
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Erich Beting

A noite era para ser do Cruzeiro, justíssimo campeão brasileiro e que sobrou pelos gramados do país nos últimos meses. Mas o registro fica também para o que fizeram os 308 jogadores que entraram em campo na noite de quarta-feira. 

Em nome do Bom Senso, os atletas dos 14 times  cruzaram os braços assim que deram o primeiro toque na bola. Com o detalhe espetacular para o protesto do protesto feito por são-paulinos e flamenguistas, que trocaram a bola de um lado a outro pela absoluta falta de bom senso de Alício Pena Junior, árbitro que ameaçou amarelar quem cruzasse os braços.

O ato de Alício, aliás, talvez ajude ainda mais para o Bom Senso pegar.

Aliado ao movimento dentro de campo, o grupo que pede mais racionalidade na gestão do futebol brasileiro iniciou pela internet uma campanha para que as pessoas mandassem fotos demonstrando apoio ao Bom Senso. Ganhou ainda mais adeptos.

Talvez desde a histórica campanha pelas Diretas Já da democracia corintiana que o futebol no Brasil não vê um momento tão coerente e importante. Dessa vez, não pela nação, mas pela sobrevivência do próprio produto do futebol. A pressão à CBF, via opinião pública, é uma das melhores alternativas para fazer com que o Bom Senso ganhe pelo cansaço.

No fundo, no fundo, toda essa movimentação parte do princípio básico. Quem faz o show é o atleta. Sem ele, não há show. 

Se continuarmos a maltratar os artistas, o futebol definha. É uma questão simplesmente de bom senso. Não é muito difícil…


Patrocinadores começam a ativar ingressos para a Copa
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Erich Beting

O insucesso de um considerável número de pessoas na aquisição dos dois primeiros lotes de ingressos para a Copa do Mundo acendeu nos patrocinadores do Mundial a luz verde para o início das campanhas de incentivo de vendas atreladas aos bilhetes. Só nesta semana, Liberty Seguros e Visa se juntaram à Coca-Cola como empresas que lançaram ações para o consumidor tentar a sorte de conseguir um ingresso para a Copa.

Previstas desde a assinatura do contrato com a Fifa, essas ações são talvez o grande benefício tangível que uma marca tem ao patrocinar o Mundial. Sendo a única em seu segmento com permissão para ter iniciativas desse gênero, a empresa cria uma promoção que dê ao torcedor a chance de ir para um jogo do torneio e, assim, além de tornar a marca mais agradável aos olhos do consumidor, pode conseguir um incremento nas vendas.

A partir do próximo dia 6, quando serão definidos os jogos da Copa, as marcas devem começar o bombardeio de comunicação na mídia das suas promoções atreladas, primeiramente, aos ingressos. Para 2014, a previsão da Fifa é de que cerca de 485 mil bilhetes sejam usados pelas marcas para as promoções.

Ou seja, o montante de ingressos que os patrocinadores dispõem para as ações de marketing com o consumidor é um pouco mais do que a Fifa disponibilizou para os torcedores brasileiros (a carga à venda para o torcedor local foi de 426 mil bilhetes).

A justificativa para essa distribuição está na ponta da língua da entidade, logicamente. Os patrocinadores são responsáveis por cerca de 60% da receita da Fifa com a Copa do Mundo. Sendo assim, boa parte dos ingressos ficam para eles como “trunfo” para ações com o consumidor. Em tempo, é preciso explicar que o patrocinador também paga por esse ingresso. Ou seja, a receita da Fifa é mantida.

Esse modelo de negócios foi inventado pela própria Fifa, ainda nos anos 70, sob a gestão de João Havelange. À época, com um mundo muito menos interligado e com a Copa do Mundo sem o mesmo tamanho de hoje, era muito mais simples realizar ações desse tipo.

O problema desse modelo de negócios nos dias de hoje é que, a cada Mundial, ele só faz aumentar a insatisfação do torcedor anfitrião do evento. Num Brasil que já tem de aceitar diversas exigências da Fifa, a população local não ser a prioridade da alocação de ingressos soa como um motivo a mais para que o evento tenha um aumento de críticas por parte de quem tem também de desempenhar uma função de anfitrião da Copa do Mundo.

O bombardeio de promoções de ingressos por parte dos patrocinadores está só começando. Assim como a sensação, mais uma vez, de que a Copa do Mundo pode ser de todo mundo, mas não é, com certeza, do Brasil.

Talvez nunca a Fifa tenha imaginado quão complexo seria administrar a Copa do Mundo brasileira…


Marin abre renegociações na CBF para findar a Era Teixeira
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Erich Beting

Em 12 de março de 2012, José Maria Marin assumiu a presidência da CBF. À época, seu desafio parecia relativamente simples. Manter o curso da entidade em ordem tendo em vista a Copa do Mundo. Entidade esportiva com maior faturamento do país, a CBF vivia o benefício de ser o time anfitrião do Mundial de 2014. Desde o anúncio da sede da competição, foram seis novos patrocinadores para a entidade, além de duas empresas apoiadoras. O faturamento anual, que vivia na casa dos R$ 80 a 100 milhões, saltou para as duas centenas de milhões.

Marin, portanto, não precisava fazer muita coisa para mudar esse cenário. Mas hoje, 20 meses após assumir o cargo, o presidente dá mostras de que trabalha para findar a “Era Teixeira” no que diz respeito aos contratos de patrocínio. Na segunda-feira, anunciou a renovação do acordo com o Itaú até 2022, estendendo por mais oito anos o vínculo com o banco. Foi o terceiro contrato que foi modificado após sua entrada e o sexto diferente acordo de patrocínio fechado por Marin.

No ano passado, a MasterCard foi anunciada como patrocinadora da CBF, num acordo que já vinha sendo delineado nos tempos de Teixeira. Em 2013, porém, a dança das cadeiras foi maior. A Gol substituiu a Tam, a Sadia entrou na vaga da Seara e dois patrocinadores foram anunciados: Seguros Unimed e Samsung.

A renovação com o Itaú deixa a conta de acordos que ainda têm a caneta de Ricardo Teixeira cada vez menor. Ainda restam, porém, os maiores contratos da entidade: Nike (US$ 35 milhões ao ano), Ambev (US$ 15 milhões) e Vivo (US$ 15 milhões), todos renegociados recentemente na gestão de Teixeira e que provavelmente não mudam de configuração tão cedo.

Esses novos acordos e, agora, o início das renegociações, também fazem parte claramente de uma estratégia política de Marin. Em todos os contratos recentes, Marco Polo Del Nero, vice-presidente e seu candidato à sucessão, esteve presente nas imagens de divulgação do negócio.

O cenário de Copa do Mundo aqueceu os negócios da CBF. Agora, Marin se aproveita disso para começar a imprimir sua digital nos negócios da entidade. Aos poucos, a Era Teixeira começa a ser deixada de lado. E o próximo presidente que aguarde para tentar renegociar os contratos. A CBF começa a ficar muito próxima do teto no que diz respeito ao faturamento com patrocínios.


Sucesso do Fla no Sócio-Torcedor mostra o quão errado ele é
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Erich Beting

Flamengo e Ambev celebraram neste fim de semana o salto do programa de sócio-torcedor do Rubro Negro carioca. Desde que o clube conquistou a vaga na final da Copa Perdigão do Brasil, o número de associados cresceu a uma taxa de 2 mil pessoas a cada dia. Hoje, o Flamengo já passou a marca dos 51 mil sócios e caminha para bater até o meio da semana o Santos no ranking de maiores programas do país.

Mas o sucesso flamenguista é também a prova de quão errado é o conceito do programa de sócio-torcedor no país. O boom do Flamengo está ligado, exclusivamente, a um outro fator, que é a venda de ingressos para jogos apenas para os sócios-torcedores. Apesar de não afirmar categoricamente isso, o que o Flamengo promoverá na decisão da Copa do Brasil é exatamente isso. Primeiramente serão oferecidos ingressos apenas para os sócios-torcedores. Depois, se sobrar, os torcedores “comuns”, serão agraciados.

Juridicamente isso corre o risco de ser considerado uma “venda casada”, em que o benefício só é concedido ao torcedor que paga a mensalidade. Mas vamos desconsiderar esse ponto, valendo-se do princípio que o departamento jurídico do clube esteja muito bem respaldado quanto a ele.

O salto no sócio-torcedor do Flamengo só acontece por causa da final da Copa do Brasil. Ao colocar como preferencial a venda de ingressos para esse tipo de associado, o clube força o torcedor a pagar R$ 39,90 pela mensalidade do plano. É o preço a se pagar para tentar conseguir ver o jogo decisivo do Flamengo.

Mas e depois da final? Quantos desses novos sócios permanecerão? Quantos associados anteriores a esse boom terão interesse em manter suas contas se não conseguiram ser contemplados com o ingresso mesmo tendo o programa?

Esse é o maior problema dos projetos de sócio-torcedor pelo Brasil. Os clubes têm se pautado pelo “Torcedômetro” criado pelo Movimento por um Futebol Melhor e visto a operação como varejo. Ou seja. O que interessa é subir no ranking do número de associados. O que fazer para reter esses clientes e motivá-los a sempre consumir mais está, hoje, totalmente fora dos planos.

Manter atrelado ao ingresso de jogo o programa de sócio-torcedor é um erro. O salto atual do Flamengo mostra claramente isso. O clube poderia, muito bem, criar diversos benefícios para atrair o torcedor. Não o faz, deixando apenas para a preferência na compra do ingresso o único motivo palpável para a pessoa se associar.

Isso resolve o problema de curto prazo. Num universo em que cada vez mais associados estarão presentes aos programas, o que antes era um benefício torna-se algo “comum”. É, mais ou menos, o tal do sorteio de ingressos da Fifa. Muita demanda para pouca oferta. Só que, no caso do sócio-torcedor, como a pessoa é obrigada a pagar uma mensalidade, vai chegar uma hora em que ela fará as contas e perceberá que não vale a pena manter o investimento e raramente conseguir o ingresso para o jogo.

O caso do Fla evidencia essa situação. O sócio-torcedor só cresceu pelo fato de o time chegar à final da Copa do Brasil. E se o Flamengo perder a decisão? Por qual motivo o torcedor seguirá vinculado ao clube? Para ver jogos do Cariocão, do Brasileiro e da Copa do Brasil no ano que vem? Em fases iniciais?

Os programas de sócio-torcedor precisam se ver como um clube de benefícios exclusivos e intangíveis para seu associado, e não como operação de varejo. Até porque, em breve, os estádios deverão conseguir atrair mais receita de quem não é sócio-torcedor do que de quem é associado. E, aí, os clubes perceberão que é mais rentável trazer pessoas diferentes para o estádio do que sempre a mesma turma. Mas isso, claro, deve levar ainda uns dez anos para acontecer. No mínimo…

Flamengo

Flamengo

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O marketing pode dar certo mesmo sem desempenho esportivo
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Erich Beting

“O melhor marketing que pode existir no esporte é a vitória”. Essa frase sempre serviu de amparo para os clubes justificarem o não-investimento em marketing. No Brasil, esse sentimento parece estar enraizado na cultura dos clubes e, também, dos torcedores e de boa parte da mídia que cobre o esporte.

Mas talvez um dos poucos segmentos em que o desempenho de um produto não precisa necessariamente ser bom para que ele seja consumido é o esporte. Como tem um enorme grau de fidelização entre o consumidor e a instituição esportiva (pode ser um clube, um atleta ou uma modalidade), o marketing serve apenas como meio para que a pessoa tenha cada vez mais interesse em consumir.

Uma prova concreta disso foi o resultado de uma ação que a Peugeot fez ao longo de todo o ano com o Flamengo. Em cada jogo do Rubro-Negro, um grupo de consumidores é presenteado com um “Kit Torcida”. Além de ingressos para ver a partida de camarote, ele ganha uma camisa do clube e, ainda, acompanha o jogo ao lado de um grande ídolo do passado do clube.

É algo simples de se fazer, gera muito pouco custo e, obviamente, traz um enorme retorno. Por pior que esteja o desempenho do time dentro de campo, a simbologia que existe no fato de o torcedor poder estar ao lado de um ídolo, torcendo com ele, supera qualquer má fase da equipe. No máximo gera motivo de sobra para o atual perna-de-pau ser xingado com mais veemência, mas o convite para ir ao jogo se torna irrecusável.

Ao longo deste ano, 400 consumidores da fabricante de carros estiveram em partidas do Flamengo pelo Brasil. Num cálculo simples e rápido. Se cada um desses clientes mantiverem-se fiel à marca que proporcionou essa experiência, e na troca do próximo carro comprarem o modelo mais barato da Peugeot, eles teriam gerado R$ 12 milhões em vendas. Basicamente o mesmo que a empresa paga para patrocinar o clube.

Claro que esse é um exemplo absolutamente hipotético, já que a decisão do cliente para uma compra de um bem tão caro como um carro não é feita 100% na emoção. Mas a fidelização do cliente via esporte é uma ferramenta absolutamente eficiente.

Nos últimos anos, a miopia da indústria do esporte no Brasil confundiu muito o papel de um patrocínio esportivo. Quase sempre a exposição de marca é o único fator que leva uma empresa a considerar colocar dinheiro num projeto de esporte. A possibilidade de realizar diferentes ações a partir daquele patrocínio é geralmente colocada para escanteio.

No caso de Peugeot e Flamengo, aquela que parece ser a mais banal das ações pode gerar um retorno milionário em vendas, sem falar em outros benefícios intangíveis, como a própria promoção da marca pelo simples fato de o cliente ter tido uma experiência singular.

O maior entrave hoje para que haja um crescimento nesse tipo de ação é a falta de fôlego, dentro das empresas, para planejar o pós-patrocínio. A verba toda quase sempre é gasta para que ela consiga ter a propriedade. Depois, pouco, ou quase nada, sobra de dinheiro para que as ativações sejam feitas.

O flamenguista continuará a ser Flamengo, como diz o trecho inicial do hino do clube. O patrocinador que resolve se associar a um esporte tem de entender que esse é o maior ativo que existe para um projeto. A exposição da marca é absolutamente vital no processo, até para justificar parte do valor investido no patrocínio. Mas o trabalho que é preciso fazer após colocar essa verba é mais importante para fazer com que o investimento se pague.

É exatamente esse tipo de evolução que ainda falta para o mercado brasileiro. Mas que, aos poucos, começa a se revelar, numa ou outra ação aparentemente pequena.


Liga dos Campeões gera maior audiência da Band no ano
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Erich Beting

O duelo entre Barcelona e Milan, pela Liga dos Campeões da Europa, marcou mais um encontro entre Kaká, Robinho e Neymar. O duelo que envolveu três dos principais nomes de jogadores brasileiros em atividade no futebol europeu foi, também, o que rendeu a maior audiência da Band na transmissão do futebol este ano.

Primeiro, há de se fazer a ressalva. Quando digo que Neymar, Kaká e Robinhos são os principais nomes de brasileiros em atividade na Europa, não me refiro apenas à questão técnica. Eles são personagens que a mídia por aqui repercute constantemente e, também, são os que atraem maior legião de fãs brasileiros entre os que hoje estão em atuação no Velho Continente.

Daí, passamos para o segundo ponto. Faz um certo tempo que não há tanto jogador de renome do Brasil num jogo de relativo grau de importância num grande campeonato europeu. Simplificando: há quase meia década que os astros eram apenas Cristiano Ronaldo e Messi.

O resultado disso é que, no Ibope, a Band conseguiu marcar 11 pontos de audiência com o jogo (detalhes aqui). Foi a vice-líder e, também, passou a barreira dos dez pontos depois de mais de um ano.

Isso é ótimo para a emissora, mas revela um lado preocupante para o futebol no Brasil.

Cada vez mais, o público brasileiro prefere ver um jogo entre dois clubes europeus do que o de muitos clubes locais. Os motivos para isso são os mais variados. Passa obviamente pelo calendário, mas também tem muita relação com a qualidade do futebol que é jogado por aqui, pelas condições que o torcedor tem para ir aos estádios e principalmente pela promoção dos campeonatos por aqui.

A Liga dos Campeões é hoje responsável por 80%  de toda a receita anual da Uefa. Isso só é possível graças à intensa promoção que a entidade faz do campeonato que organiza. Da mesma forma, porém, a instituição promove a Europa Liga e as demais competições, que por serem menos atraente, geram menos receita, mas não deixam de ser importantes.

Aqui, a CBF senta em cima da enorme receita de patrocínios gerada pela força da marca da seleção brasileira. O produto interno, assim, é colocado para escanteio. Em vez de promover o Brasileirão e transformá-lo numa marca, a entidade foca os “esforços” no time nacional. Por outro lado, os clubes, atolados em seus próprios problemas, contentam-se com o aumento da receita de televisão e não percebem o detrimento do produto futebol como um todo.

Quando a maior audiência do ano de uma emissora que transmite futebol pelo menos três vezes por semana é de um campeonato da Europa, é sinal de que alguma coisa está precisando, urgentemente, ser revista.


Cancelamento da Soccerex é a síntese do estranho mercado brasileiro
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Erich Beting

Um comunicado oficial em vídeo no qual um executivo inglês tenta se explicar, visivelmente sem graça. Assim se encerra a história da Soccerex, vendida como a grande feira global de negócios no futebol, no Brasil. A edição de 2013, que aconteceria agora em dezembro, foi cancelada após um adiamento e uma mudança de local.

O cancelamento da convenção global da Soccerex é a síntese do mercado brasileiro de esporte. Totalmente dependente do investimento público para realizar grandes eventos, a indústria esportiva ainda não consegue se sustentar pelo setor privado. Prova disso são as contas altíssimas que o setor público está pagando para Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.

A história da Soccerex no país é marcada por uma relação próxima ao governo do estado do Rio de Janeiro e pelo uso de milhões de dinheiro público para colocar em pé o principal evento para a indústria do futebol já feito no país. Desde 2010, era o governo do estado fluminense o responsável por bancar a estrutura para a Soccerex, que em “troca” garantia a vinda de representantes do exterior para o país, movimentando a economia. Só no ano passado, o custo da montagem da convenção foi de cerca de R$ 15 milhões. Somando-se aos gastos de 2010 e 2011, é bem possível que a conta chegue a quase R$ 50 milhões investidos ao longo dos últimos anos.

Em 2010, ainda com o espetáculo do crescimento nacional batendo à porta e espantando a marolinha, Márcia Lins, então secretária de Turismo e Esporte do Rio, celebrava o investimento público no esporte:

“Uma série de investimentos acontece. No ano passado, o governo gastou mais de R$ 70 milhões só no esporte, com recursos incentivados, realizando diversos projetos, eventos importantes, como trazer os Jogos Mundiais Militares, estar com a Copa do Mundo, com a Copa das Confederações e Jogos Olímpicos. Neste ano realizaremos a Soccerex, a maior feira de futebol do mundo que acontecerá no período da Copa do Mundo. Enfim, há uma série de iniciativas que planejamos estrategicamente para que possamos aproveitar todas estas oportunidades abertas pela a Copa do Mundo e Olimpíadas”, afirmou Lins em março de 2010.

Hoje, com os protestos batendo literalmente à porta do governador Sergio Cabral, o derrame de dinheiro do contribuinte para bancar uma festa para dirigentes do exterior parecia, realmente, uma aposta arriscada.

Sem o dinheiro do governo, a Soccerex mudou de data e de local. Havia estacionado no Maracanã. Os organizadores, assim, passaram a tentar trabalhar no improviso, manter as contas equilibradas e fazer o evento acontecer mesmo assim. Hoje, a menos de um mês de seu início, os ingleses decidiram dar para trás e passar o vexame de cancelar a feira.

Qual o prejuízo de imagem para o país que esse cancelamento gera?

Sinceramente sempre achei o propósito da Soccerex um tanto quanto inútil em solo brasileiro. A indústria do futebol é pequena e centralizada, não precisando de um evento único para reunir os profissionais e gerar negócios. Como por aqui  o mercado ainda engatinha, a feira se tornou muito mais um ponto de encontro no fim de ano do que propriamente um evento para fazer negócios.

Isso pode até ser um erro estratégico de quem achava que a feira serviria para fazer as pessoas ganharem dinheiro ao participar dela, mas há um prejuízo para o Brasil. Afinal, essa desistência dá uma boa mostra de como funciona a indústria do esporte por aqui. Na Inglaterra, berço da Soccerex, a convenção de Manchester tem forte apoio governamental. Mas, por lá, a reunião de empresas para gerar negócios é, de fato, eficiente.

Sem gerar negócios e precisando cancelar a feira em cima da hora, a impressão que fica para o estrangeiro é que, diferentemente do que Pero Vaz Caminha profetizou lá em 1500, no marketing esportivo do Brasil em se plantando, nem tudo dá…

A indústria esportiva brasileira ainda passa por um processo de formação. O mercado ainda tem um comportamento “estranho”, por assim dizer. A menos de oito meses da Copa do Mundo, a principal feira de negócios de futebol é cancelada por não conseguir ter dinheiro para acontecer. Não deixa de ser incongruente. Mas, sem dúvida, é bastante revelador.

Fazer do esporte uma profissão no Brasil ainda é uma tarefa complexa. A dependência do setor político deixa o mercado absolutamente instável, o que afasta investimento mais consistentes. Por outro lado, o investidor privado, inseguro, raramente monta um plano estratégico tendo o esporte como principal foco. E, assim, o barco segue a maré. Na alta, com mais dinheiro e, na tormenta, procurando o colete salva-vidas. A Soccerex é só mais uma que não encontrou o colete…


Jogador de futebol americano lançará ações próprias na bolsa
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Erich Beting

Imagine se Michael Jackson tivesse lançado ações na Bolsa de Valores? Quantas pessoas comprariam uma ação do astro da música? Esse é mais ou menos o pensamento que guia o mais controverso IPO (Oferta Pública Inicial de ações) que deve ser feito na Bolsa de Valores dos Estados Unidos nesta semana.

A empresa Fantex decidiu criar um novo tipo de negócios para operar em bolsas. O fundo terá uma carteira de atletas. Esses, individualmente, serão transformado em empresas e “lançados” na Bolsa. A ideia é captar dinheiro com essas ofertas públicas de ações e, em troca, dar aos acionistas participação sobre parte dos rendimentos dos atletas. O modelo de negócios é até similar aos fundos de investimento em jogadores que têm pintado no futebol. Mas com uma enorme diferença, já que prevê a participação individual dos atletas.

O jogador de futebol americano Arian Foster será o primeiro a testar esse modelo, em IPO prevista para acontecer ainda esta semana.

Serão 1.055.000 ações colocadas à venda a US$ 10 cada. Com isso, espera-se levantar US$ 10,550 milhões. Desse montante, US$ 10 milhões vão direto para o atleta. O restante ficará para a Fantex. Não será possível a nenhum comprador obter mais do que 1% das ações.

Em troca, Foster, que é running back do Houston Texans, fornecerá 20% de sua receita para os seus acionistas. O valor, porém, não vai incidir sobre contratos prévios, investimentos pessoais do atleta, pagamento de salários não-relacionados ao futebol americano, pensão do sindicato dos atletas e obras de autoria do atleta (letras de músicas e livros, por exemplo).

A ideia, claramente, é aproveitar o potencial comercial de Foster. E, logicamente, esse é um movimento típico que só pode acontecer com um mercado esportivo absolutamente maduro e desenvolvido como o americano.

Poucos atletas conseguem ser, de fato, empresas. Nos EUA, a proporção logicamente é maior, já que há uma cultura de investimento no atleta como garoto-propaganda, palestrante, consultor, etc. Por aqui, esse tipo de iniciativa raramente conseguiria dar certo. Não apenas por um controle grande feito pela Bovespa para permitir IPOs de empresas, mas pela falta de maturidade do mercado de atletas.

Na bela história de Foster, a possibilidade de ganhos com os negócios do atleta é real. Mas, da mesma forma, a chance de a “empresa” naufragar é enorme. Especialmente pelo risco de lesão, que torna a “companhia” muito frágil. O conceito é interessante e, num mercado como o dos EUA, pode realmente pegar. Para outros lugares, ainda precisaríamos de uns 30 anos, pelo menos, para que um negócio desses funcionasse.

O risco maior, porém, continua a ser entender o quanto a performance esportiva vai interferir na especulação sobre o “valor” da empresa Arian Foster.


Nike escala artistas para revelar camisa do Brasil na Copa
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Erich Beting

Ivete Sangalo, Thiaguinho, Naldo, Marcelo D2 e Anitta. Essa é a escalação do time que vai apresentar ao público a camisa da seleção brasileira que será usada na Copa do Mundo de 2014. O quinteto faz parte do megaevento que a Nike preparou para promover o lançamento do uniforme que será usado pelo time brasileiro no Mundial.

Batizado de “Festival dos Esportes”, o evento acontecerá no domingo, dia 24 de novembro, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O roteiro prevê uma corrida de rua (a partir das 8h), partidas de futebol 4×4 (a partir das 10h), apresentações de skate (a partir das 12h) e o show com os artistas (a partir das 17h). A expectativa é de que quase 100 mil pessoas estarão presentes ao longo do dia de atividades.

A ação tem como objetivo, além de promover o lançamento da camisa da seleção, ativar outros importantes segmentos de vendas da empresa. O mercado de corrida de rua e o skate são dois dos focos da marca no país.

A estratégia de fazer um megaevento repete, em escala ampliada, o que a própria Nike fez para lançar a camisa usada pelo Brasil na Copa das Confederações. Na ocasião, a empresa mostrou as camisas azul e amarela em três dias de eventos na praia de Copacabana, mas que só reuniam a temática do futebol e um show de Seu Jorge.

O uso do Rio de Janeiro como palco dos lançamentos, em eventos abertos ao público, faz parte do posicionamento da Nike para bater de frente com a Adidas, patrocinadora da Copa do Mundo. Até 2012, as camisas da seleção geralmente eram apresentadas em eventos fechados para a imprensa. Alguns deles aconteciam no exterior.

Com os eventos próximos ao público, a Nike acaba “invadindo” o terreno do Mundial e marcando sua presença junto ao consumidor. O Rio de Janeiro, nesse sentido, tornou-se a capital da marca no país. Afinal, em 2016 ela será patrocinadora dos Jogos Olímpicos na cidade.