Negócios do Esporte

Arquivo : março 2013

O limite da interferência da TV no esporte
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Erich Beting

A TV é o melhor meio para propagar e divulgar um esporte. Detentora de verba e (ainda) da maior fatia de audiência, o esporte se tornou um colosso mundial a partir da propagação de suas competições via televisão. A junção de imagem e som em tempo real para o telespectador transportou o evento esportivo do local onde ele acontecia para dentro da casa das pessoas.

Mas, desde o princípio, essa relação entre TV e esporte traz exemplos que demonstram ainda existir uma falta de visão de gestores (tanto na mídia quanto no esporte) de que há um limite na interferência de um sobre o outro.

O mais recente foi neste final de semana, durante os treinos de classificação para o GP da Austrália de Fórmula 1. Por conta da televisão, há cerca de três anos a Austrália mudou o horário da prova. Em vez da tradicional largada às 14h locais, mudou-se para as 17h, com o objetivo de atender à demanda da televisão europeia, que paga a maior parte da conta dos direitos de TV da F-1.

Neste fim de semana, um manjada chuva de verão caiu em Melbourne e forçou o adiamento, para o mesmo dia da prova, da realização do treino de definição do grid de largada. Com uma reza brava para que a meteorologia ajudasse no domingo, conseguiu-se fazer o treino e a prova sem maiores problemas.

A mudança de horário para atender às necessidades da TV colocou em risco pilotos e a disputa na Austrália. O dilema não é novidade e, muito menos, parece estar perto de uma solução. Nos Estados Unidos, diversas vezes, os atletas reclamam da maratona de jogos e viagens para cumprir a grade de programação da TV. No Brasil, temos horários abusivos para alguns esportes por conta dessa “ditadura” da televisão.

O problema é que, na maior parte das vezes, o esporte não está preparado suficientemente para peitar a televisão. Da mesma forma que ajuda a divulgar e promover um evento esportivo, a TV também é refém dele, necessitando do bom conteúdo que uma competição esportiva pode proporcionar para obter receita, audiência e, por vezes, status.

O limite para a interferência da TV no esporte é o limite de preservação das condições mais justas e seguras para a realização de um evento. Colocar sob risco os atletas apenas para atender às necessidades da televisão, além de ser questionável do ponto de vista humano, é contraproducente até para o próprio evento. Afinal, um jogo às 16h no verão brasileiro faz com que o atleta não consiga ter o mesmo rendimento daquele disputado sob temperatura mais amena.

O problema é que é preciso que a indústria do esporte esteja madura o suficiente para poder peitar o jogo da televisão. No caso da F-1, com uma Europa em crise e com investidores mais espalhados pelo mundo, a grana da TV continua a ser importante. Quando o esporte se preparar para depender menos da TV, as exigências se tornarão cada vez menores. Para isso acontecer, porém, é preciso um longo caminho a ser percorrido. Especialmente na profissionalização do dono do talento, que é o atleta.


A classe C e o domínio estrangeiro nas marcas esportivas
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Erich Beting

Nunca o Brasil vendeu tantos calçados esportivos como em 2012. Da mesma forma, nunca tivemos um preço final tão caro para a venda de calçados como nos últimos anos. Esses são alguns resultados de uma pesquisa feita pela consultoria Gfk sobre a comercialização de tênis no Brasil.

E mostram uma nova tendência para o mercado das marcas esportivas no país. As empresas brasileiras vão encolher e deixar de ser protagonistas num futuro muito mais rápido. E isso está diretamente ligado ao aumento de consumo da classe C e da estúpida lógica de proteção de mercado imposta pelo governo.

O levantamento mostra que o brasileiro tem gasto em média US$ 94 para comprar um tênis. É um valor médio muito próximo ao que os suíços gastam para comprar seus calçados (por lá o custo médio é de US$ 100). Mas é bem maior do que sul-africanos (US$ 72) e chilenos (US$ 52) pagam em média para adquirir um calçado. Quando comparamos os padrões de renda e custo de vida entre os quatro países, o sentimento de que algo está errado torna-se ainda maior.

Mas o pior de tudo é que o número não chega a surpreender. Ele só é mais um reflexo da estúpida escalada de custo de vida no Brasil e que está, neste caso, ligado diretamente a uma visão tacanha do governo de proteção à indústria nacional.

Em 2010, o governo baixou uma lei que tenta coibir a importação de calçados esportivos. Nela, o tênis que é fabricado em alguns países da Ásia (liderados obviamente pela China) é sobretaxado. São US$ 13 a mais por par de calçado. O resultado, claro, é o de que o Brasil é um dos países em que um tênis para a prática esportiva tem o valor final mais caro.

A medida tinha como objetivo tentar proteger a indústria nacional. O movimento antidumping era liderado pela Vulcabras|Azaleia, dona da marca Olympikus, que apostava no aumento de poder de consumo da população para manter-se como a maior em volume de vendas entre as marcas esportivas no país. Para isso, a sobretaxa ao tênis importado evitava que o preço das marcas concorrentes ficasse próximo ao que ela praticava.

Mas o aumento do poder de consumo da população gerou uma mudança interessante na venda de artigos. A impressão inicial era a de que o brasileiro da classe C, que é a mais volumosa e, consequentemente, a que mais vende, fosse comprar mais dos mesmos produtos.  Só que, com o aumento do poder aquisitivo, a classe C passou a buscar produto de maior valor agregado. Os tênis de marcas consagradas, como Nike e Adidas, passaram de objetos de desejo para objetos de consumo, devidamente parcelados pelo cartão de crédito que antes não estava disponível.

O reflexo disso está no aumento do consumo de marcas estrangeiras nos dois maiores mercados de esporte, que são os tênis de corrida e os calçados para a prática do futebol. De acordo com o levantamento da Gfk, a corrida tem 17% das vendas de calçados no país, superando o futebol, que domina 13% do mercado.

Nesses dois esportes, em que as marcas estrangeiras são as mais admiradas (Asics e Mizuno na corrda, Nike e Adidas no futebol), o salto de consumo se dá exatamente entre as marcas importadas. Não à toa, essas são também as duas modalidades que possuem os calçados mais caros para o público final.

No segmento de corrida, 60% das vendas são de calçados acima de R$ 150. Desse montante, 67,1% são de marcas estrangeiras.

No futebol, as marcas locais não vendem nenhum produto acima de R$ 150, enquanto as estrangeiras dominam 62% do mercado.

O aumento da classe C no Brasil, fenômeno bastante observado nos últimos cinco anos, fez com que uma nova realidade começasse a se estabelecer no mercado nacional. Com mais dinheiro nas mãos do consumidor, as marcas estrangeiras, que possuem uma melhor imagem na mente das pessoas, passaram a ter um aumento de vendas.

E as medidas de tentativa de proteção ao produto nacional por parte do governo só fizeram piorar a vida de quem consome.

Aos poucos, as marcas nacionais vão deixar de ser protagonistas dentro do mercado, que terá uma demanda maior de empresas estrangeiras. Muito mais inteligente para o governo seria, a partir de agora, trabalhar para incentivar que essas marcas produzissem a maior parte ou a totalidade de seus artigos em solo nacional. É um caminho para manter empregos, reduzir os custos e permitir ao consumidor não ter preços suíços num país com muito menor poder aquisitivo.


E o plano do Brasil para a NBA?
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Erich Beting

A NBA, liga de basquete dos Estados Unidos, apertou finalmente o botão “start” para o projeto de expansão no mercado brasileiro. O primeiro passo foi marcar um jogo de pré-temporada em solo nacional. O segundo, como geralmente qualquer entidade esportiva faria, seria esperar chegar outubro para os marmanjos do basquete americano desembarcarem no Galeão, irem até a HSBC Arena bater uma bolinha, embolsar uma grana e pronto.

Seria assim, não fosse o fato de que tudo o que diz respeito aos passos rumo ao exterior da NBA serem meticulosamente planejados.

A começar pela escolha dos times para o jogo e da data. O Chicago Bulls, ex-time de Michael Jordan, é um dos mais populares da liga por aqui. Já o Washignton Wizards tem Nenê e Leandrinho no elenco, os dois nomes mais midiáticos entre os brasileiros que jogam nos EUA. A data também é bem escolhida. No meio do feriado de 12 de outubro, quando o trânsito no Rio de Janeiro estará menos carregado e a chance de termos mais crianças na partida ser maior, expandindo o basquete para o público jovem.

Além disso, nesta semana Ron Harper, pentacampeão da NBA por Bulls e Los Angeles Lakers, deu o ar da graça no Flamengo. Visitou o clube, falou de basquete e, claro, de que será um bom jogo o amistoso entre seu ex-clube e o Wizards.

Outras ações para lembrar o torcedor brasileiro de que em outubro a NBA finalmente desembarcará por aqui deverão ser feitas pela liga nos próximos meses. Claramente, os americanos têm um plano completo para o mercado brasileiro. Mas e o contrário?

Dois importantes parceiros comerciais da NBA ainda não se prepararam para a vinda da liga para cá. Netshoes e Adidas são, respectivamente, a operadora da loja oficial e a fornecedora de material esportivo. As duas marcas, porém, não têm um plano traçado para aproveitar a presença de times e astros do basquete em solo nacional. Não era obrigatório ter, mas da forma como a liga já vinha se preparando para desembarcar no Brasil, era de se esperar que já houvesse um mínimo de movimento em torno disso.

Da mesma forma, o que o basquete brasileiro pode se beneficiar da presença de Bulls e Wizards por aqui? É uma pergunta que fica ao vento quando pensamos no que a Confederação Brasileira tem de planos para isso.

Nos últimos anos, o basquete brasileiro conseguiu ressurgir das cinzas, olhando bastante para o modelo da NBA. Agora que a liga americana começa a colocar em ação o seu plano para o mercado do Brasil, a pergunta que fica é uma só.

O que o basquete brasileiro planeja para se beneficiar desse movimento?


Nem Ricardo Teixeira faria igual…
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Erich Beting

José Maria Marin conseguiu uma proeza que nem Ricardo Teixeira seria capaz de fazer igual. Após a polêmica que relaciona o hoje presidente da CBF com o período da ditadura militar no Brasil e a morte do jornalista Vladimir Herzog, Marin decidiu se defender. Para isso, usou o site oficial da entidade que preside para debater um assunto quase 40 anos após sua realização.

A atitude de Marin, que confunde a vida particular com a pública, é tão absurda a ponto de superar outras atrocidades que Ricardo Teixeira cometeu nos últimos 24 anos que perpetuou-se na presidência da CBF.

Confederação de futebol com um dos maiores faturamentos do mundo, dona da marca mais desejada no mundo da bola, a CBF agora serve de quintal para duelos pessoais de seu presidente.

Como disse à época da saída de Ricardo Teixeira, quase nada mudaria ou melhoraria no futebol brasileiro com a troca do presidente. Passado mais de um ano da gestão Marin, fica a certeza de que retrocedemos para uma época em que os dirigentes tinham a certeza de que podiam fazer uso das entidades que presidiam para debater assuntos próprios.

O site da CBF hoje foi hackeado. Quem invadiu a página foi o senhor José Maria Marin. A prova disso é o que foi feito com a página de abertura do site da seleção que mais vezes conquistou o mundo dentro de campo.

Reprodução da capa do site da CBF


A arte de desfazer eventos no Brasil
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Erich Beting

Terminou em um acidente relativamente pequeno o evento do último domingo, promovido pela Cervejaria Petrópolis e que teve Felipe Massa e algumas outras Ferraris no meio da rua no Rio de Janeiro. Hoje, em seu blog, Flavio Gomes conta um pouco mais sobre o responsável pelo acidente do domingo, um dono de uma Ferrari que não conseguiu controlar a velocidade de seu carro, invadiu a área de espectadores e atropelou quem estava lá para assistir aos carros.

O curioso da história toda é que o “motorista” admitiu que havia bebido cinco latas de cerveja. Sim, você não está lendo nada errado. O cara é chamado para um evento reunindo donos de Ferrari, pega o seu carro avaliado em R$ 2 milhões, acelera mais do que deve, não controla o automóvel e, por sorte, não mata ninguém. Se fosse só isso, ok, era só imprudência. Com o fato de ter bebido cerveja, torna-se, pelas leis de trânsito no Brasil, um crime.

O caso é o segundo que envolve donos de Ferrari e acidentes no Brasil durante um evento promocional. Em 2006, no autódromo de Interlagos, a editora Abril organizava o Quatro Rodas Experience, um dia completo de exibição de carros de diferentes marcas, em que as pessoas “comuns” podem andar em modelos absurdamente velozes e caros. Naquela ocasião, as Ferraris só eram guiadas por seus donos. À boca pequena, a história que se conta daquele maio de 2006 é que o irmão do dono de uma delas resolveu “assumir” o comando do carro, que explodiu ao chocar-se contra o muro. O piloto, naquela ocasião, não estava embriagado, mas também não conseguiu ter controle sobre o veículo por total falta de experiência na direção.

Os dois exemplos revelam a arte que o Brasil ainda cisma em ter de “desfazer” eventos.

Culturalmente, somos um povo autoconfiante. Isso gera um outro problema, que é a imprudência. Achamos que somos capazes de fazer as coisas no limite do possível para dar tudo errado. É aquela superlotaçãozinha que não tem muito problema assim, ou então o famoso “um golinho apenas” que não o deixará com menos reflexo na hora de dirigir. Ou aquela ultrapassada na correnteza das ondas só para pegar a melhor onda. Ou o “drible a mais” só para deixar mais bonito um gol que já era certo.

É algo cultural, que na maioria das vezes não coloca todos em risco. Mas que, logicamente, em determinadas situações torna tudo muito perigoso. Como dirigir uma Ferrari sem ter habilitação para tanto. Ou pegar o carro num evento de exibição em que você tem a permissão de dirigir rápido, mas fazer isso com pelo menos 1 litro de cerveja na cabeça.

Gerenciar eventos é uma tarefa absolutamente árdua. Exige disciplina, comando, controle e, também, intransigência. Você precisa proporcionar entretenimento para as pessoas ao mesmo tempo em que tem de “cortar o barato” da empolgação alheia para que o risco do seu evento seja o menor possível.

No fim das contas, quando algum problema acontece, o dano de imagem recairá sobre quem coloca a cara para bater no evento, que quase sempre são os patrocinadores que, por sua vez, são os que mais investem dinheiro num programa do gênero.

Lá de Maranello, a Ferrari deu a licença para que o energético TNT, seu patrocinador, usasse seu piloto e sua marca para organizar um evento no Brasil. Tinha tudo para ser mais um programa que reforça o status da marca pelo mundo. A confiança em quem coloca alguns milhões de euros para ter a marca no carro da escuderia mais tradicional da Fórmula 1 é meio que óbvia.

O problema é que a Cervejaria Petrópolis, dona da marca TNT, não percebeu o tamanho da responsabilidade. Deixou seu evento quase se transformar numa tragédia por total imprudência.

A trajetória da TNT tem como premissa clara repetir ações que foram extremamente eficazes em seu maior concorrente e líder do mercado de bebida energética, a Red Bull. Hoje, a empresa austríaca talvez seja a produtora dos eventos mais emblemáticos no universo do esporte. São ocasiões que chegam a colocar em risco a vida dos participantes, mas que não registram, ao seu final, graves acidentes. A regra que impera nos eventos da Red Bull é simples. Em primeiro lugar vem a segurança. Depois, o show.

O Brasil precisa, urgentemente, deixar de desfazer tantos eventos. Do contrário, o mercado esportivo vai continuar subaproveitado.


O surpreendente rosto da Copa no Brasil
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Erich Beting

Neymar, Ronaldo e Pelé eram bola cantada. Qualquer marca que queira falar sobre futebol e Copa do Mundo no Brasil deve já ter pensado, procurado e negociado com as três personalidades mais influentes do futebol no país atualmente.

Único atleta em atividade dentre os citados, Neymar é a escolha óbvia. Está em evidência, é o grande nome do time brasileiro para a Copa do Mundo e esperança para a conquista do hexacampeonato. Ronaldo é o maior artilheiro dos Mundiais. E Pelé é autoexplicativo.

O movimento era tão óbvio que os três se anteciparam ao movimento lá atrás. Neymar tem duas agências para representá-lo. Ronaldo, por sua vez, criou a 9ine pensando inicialmente na gestão de contratos publicitários para atletas, a começar por ele. E Pelé tem a Legends10, empresa que o representa mundialmente e que, aleluia, profissionalizou a gestão de seus negócios publicitários, escolhendo a dedo as marcas que ele representa e o alcance das campanhas.

Mas quem tem surpreendido como rosto mais desejado pelas marcas até agora é Cafu.

Sem alarde, como quase sempre foi em sua carreira dentro de campo, o capitão do penta se transformou em garoto-propaganda de cinco patrocinadoras da Copa. Nesta terça-feira, a Liberty Seguros apresentará a nova campanha com ele. No sorteio das chaves da Copa das Confederações, foi ele quem apresentou a Cafusa, a bola da competição fabricada pela Adidas. Além disso, fez recentemente um giro pelas 12 sedes do Mundial pela Castrol, e na TV estrela ao lado de Ronaldo a campanha da Ambev para angariar novos integrantes para os projetos de sócios-torcedores dos clubes de futebol patrocinados pela marca.

Carismático, vencedor em sua carreira, Cafu também conta com outra importante característica. Ele é dono do biótipo padrão do brasileiro, tornando sua imagem absolutamente simpática para todos os públicos.

Muito provavelmente a imagem de Cafu será uma das que mais vai aparecer para o brasileiro nos próximos 18 meses. Uma prova de que o carisma da pessoa é essencial para uma marca na escolha de um garoto-propaganda. Em todo o processo da Copa do Mundo no Brasil, Cafu talvez seja a escolha mais surpreendente até o momento.

Obviamente que contando com um cachê um pouco mais em conta do que os três superastros da publicidade na Copa, Cafu conseguirá mais uma conquista num Mundial. Algo que, dentro de campo, ele soube fazer como poucos brasileiros.


A banheira suíça e o atraso brasileiro
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Erich Beting

A notícia virou o mundo desde o último sábado, quando o Grasshopper, da Suíça, venceu o St. Gallen por 3 a 1, em jogo do Campeonato Suíço de futebol. O motivo não foi o resultado em si, mas a ação feita com dois torcedores na beira do gramado do estádio Letzigrund. Eles foram contemplados com uma ação da Duravit, fabricante de banheiras e desde a temporada 2010/2011 patrocinadora do clube suíço.

Os dois assistiram ao jogo sentados dentro de uma banheira, com direito a cerveja e até mesmo comemoração do gol com o time todo indo até o local celebrar. A ideia naturalmente já correu o mundo.

Só que, em terra brasileira, por mais criativo que seja o marqueteiro de plantão, sempre haverá um porém.

No ano retrasado, a Red Bull tentou fazer algo bem mais simples do que isso nos jogos de seu time na Série A-2 do Campeonato Paulista. A ideia era que o carro pilotado por Cacá Bueno na Stock Car “entrasse” em campo antes das partidas no Moisés Lucarelli e desse uma volta na pista ao redor do gramado. Depois, o veículo ficaria estacionado de forma a ficar visível para o público. Prontamente o projeto foi vetado pela Polícia Militar, sob o argumento de que poderia ser perigoso o carro em caso de uma briga de torcidas!

Neste ano, foi a vez de a Chevrolet, patrocinadora de 20 campeonatos Estaduais, ter seu pedido de ação de marketing dentro de campo vetado. A ideia era que um carro da marca ficasse na beira do gramado e dois torcedores ganhassem o direito de assistir à partida no lugar mais do que privilegiado. A proposta foi rechaçada pelos organizadores do Paulistão.

Os dois casos evidenciam bastante o atraso que por muitas vezes domina a cabeça dos dirigentes ou de quem trabalha com o esporte brasileiro. Diversas vezes reclamamos da falta de iniciativas criativas por parte de clubes e patrocinadores, sem entender que o problema quase sempre não está com eles.

O atraso brasileiro talvez seja reduzido com os novos estádios. Mas, se continuarmos com o controle total e absoluto das federações sobre qualquer tipo de ação que seja feita dentro do local, será muito difícil realizar alguma ação inovadora. A banheira suíça é um ótimo exemplo disso.

As fotos, devidamente publicadas no perfil oficial do Grasshopper no Facebook, mostra o quão diferente pode ser a iniciativa.

 

 


Ciclismo e as cidades, questão de cidadania
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Erich Beting

Mais um acidente estúpido aconteceu em São Paulo neste final de semana envolvendo carro e bicicleta. Com roteiro digno de filme de quinta categoria, a história aparentemente é a seguinte: uma pessoa embriagada brincou de fazer zigue-zague entre os cones colocados na Avenida Paulista para utilização de bicicletas na ciclofaixa, que abriria em questão de pouco tempo. O ciclista, que andava por lá, foi atropelado. No desespero, o motorista do carro fugiu, mutilando o braço do ciclista na arrancada. Para tornar ainda mais absurda toda a história, a pessoa jogou o braço dentro de um rio, cerca de 5 quilômetros distante do local do acidente.

A história precisa ser passada adiante, já que mostra o quão sem alma pode ser uma pessoa. Mas não pode, de forma alguma, ser usada para utilizar-se o bordão mais comum para esses casos “não se pode ter bicicleta numa cidade grande”.

Primeiramente, tudo o que envolve o acidente deste fim de semana é uma questão de respeito às leis. O motorista do carro não poderia dirigir alcoolizado, muito menos “brincar” de fazer zigue-zague nos cones. O ciclista não poderia usar a ciclofaixa se ainda não estava no horário permitido.

O problema não é pontual, e é o maior motivo para explicar a estupidez que é o trânsito na maior parte das cidades brasileiras, talvez tendo em São Paulo a sua mais completa tradução. Numa sociedade em que o eu vem antes do todo (e é assim na maior parte dos lugares onde o conceito de meritocracia deturpou o conceito de vida em sociedade), a lei vira a do mais forte, ou muitas vezes como é o caso nas ruas paulistanas, a lei do mais rápido.

Por aqui, a moto anda mais rápido que o carro, que anda mais rápido que a bicicleta, que anda mais rápido que o pedestre. E assim é a cadeia involutiva das coisas. Se estamos acelerando na moto a 100 km/h numa via congestionada, o erro não é do motoqueiro imprudente, mas sim de quem resolveu atravessar o lugar na faixa, ou mudar de pista na avenida. Da mesma forma, quem está correto é o carro sobre a bicicleta, ou a bike sobre o pedestre.

Recentemente, uma pessoa tornou-se extremamente popular no Youtube por colocar vídeos das barbáries que cometia no trânsito paulistano. A bordo de uma moto, ele cruzava avenidas a mais de 100 por hora, passava sinal vermelho, desrespeitava conversões proibidas, etc. Virou herói por ser “revolucionário”. Pateticamente, tentava ainda ser didático com os espectadores, repetindo o bordão “não façam como eu”, assumido previamente a culpa pelas atrocidades cometidas.

No início de janeiro, esse “cidadão”, dirigindo um carro, fez uma conversão proibida, atropelou e matou um pedestre. Que também estava errado, porque havia aproveitado a “brecha” para ultrapassar no sinal vermelho. Um não justifica o outro. Mas evidencia, junto com o macabro acidente de domingo, que o problema é muito maior do que simplesmente dar espaço para que bicicletas e carros convivam nas cidades.

Há espaço para carro e bicicleta. Cidades mais povoadas que São Paulo, como Nova York, ou com solo tão irregular quanto a capital paulista, como Bogotá, fizeram da bicicleta um meio de transporte para cerca de 3% da população. Sim, é pouco, mas pode significar, na prática, menos carro nas ruas, menos poluição no ar, mais saúde para as pessoas.

O país que mundialmente tem o maior índice de uso da bicicleta é a Holanda, com 26% das pessoas usando-a como meio de transporte. Por lá, colabora e muito o fato de o país ser plano. Mas também é essencial o respeito que as pessoas têm com o outro, esteja ele a pé, de bicicleta, carro ou qualquer outro meio de transporte.

Um país que usa mais a bicicleta é, estatisticamente comprovado, um país com menos acidentes fatais de trânsito, mais saúde e qualidade de vida entre as pessoas, mais felicidade em se viver e, sobretudo, mais respeitoso com o próximo. E esse é o ponto essencial para que a bicicleta se transforme num meio alternativo de locomoção para os brasileiros.

O convívio entre bicicletas e carros nas grandes cidades nada mais é do que o reflexo do convívio entre as pessoas num mesmo ambiente. Enquanto não entendermos que o essencial é respeitar o outro antes de pensar em si mesmo, será impossível evoluir.

O problema não é falta de espaço, mas de respeito entre as pessoas.


Um novo caminho para os esportes olímpicos
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Erich Beting

A poeira começa a baixar após o desmantelamento das equipes de judô e ginástica do Flamengo. O movimento, aparentemente, é sem volta. Em nome do saneamento financeiro do clube, o Rubro-Negro acabou com mais duas modalidades.

O torcedor apaixonado pela marca Flamengo tem, obviamente, de espernear. Faz parte da história e da tradição do clube. Mas, como acontece em todos os clubes que têm departamento de futebol profissional e é reconhecidamente uma marca desse esporte, está cada vez mais improvável manter-se como um clube poliesportivo.

Mundialmente são pouquíssimos os clubes fortes no futebol e que mantêm, com sucesso, mais de uma modalidade esportiva. Barcelona e Real Madrid possuem equipes de ponta no basquete. O Fenerbahçe, da Turquia, também. Mas nos três casos geralmente os custos desses atletas são bancados pelo pretenso superávit da operação no futebol. Na Inglaterra e na Alemanha, os times de futebol são apenas isso. Sem perder energia com modalidades que geram muito menos dinheiro. Nos Estados Unidos, cada clube só trabalha o departamento profissional daquela modalidade, sem sequer trabalhar na formação de talentos, função relegada às escolas e universidades.

Aqui no Brasil, os clubes passaram a ter uma espécie de obrigação em cuidar de todas as pontas da cadeia do esporte. Tem de ter o profissional, mas desenvolver a base. Tem de ter o futebol, mas também o vôlei, a peteca, a ginástica, o judô, o basquete, o tênis, etc.

O fato é que, às vésperas dos Jogos Olímpicos de 2016, talvez o recado dado pelo Flamengo seja claro. É preciso pensar um novo caminho para a existência dos esportes olímpicos. Do jeito que é hoje, com a formação de atletas baseada totalmente nos clubes, os esportes olímpicos sobrevivem, em vez de existir.

As três únicas exceções a esse modelo são o Pinheiros, em São Paulo, o Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, e, numa escala um pouco menor, o Sogipa, em Porto Alegre. Para conseguir isso, obviamente que os três clubes ignoram o futebol profissional. Não fosse isso e muito provavelmente seria difícil manter tantas modalidades diferentes e formar tantos atletas.

O nível de exigência do esporte de alto rendimento faz com que o modelo brasileiro atual seja impraticável. Os dirigentes dos clubes ficam reféns do futebol para obter a maior parte de sua receita, e das demais modalidades para ter votos e chegar ao poder.

A realização da Olimpíada no Brasil poderá impulsionar a criação de centros de formação de talentos para o esporte. Nos últimos quatro anos, já surgiram diferentes projetos do gênero, espalhados por todo o país. Cada um deles geralmente abraça apenas uma modalidade, o que faz com que haja maior investimento num único esporte e, também, mais chances de obtenção de resultados a partir disso.

Esse talvez seja o modelo mais interessante para o Brasil seguir.

Com o investimento de empresas privadas ancoradas em leis de incentivo, temos condições de trabalhar o potencial dos atletas independentemente da existência de um clube para “empregá-lo”.

Para a marca, esse investimento traz retorno institucional. Para o governo, é uma forma de ajudar a dar mais acesso à prática esportiva para a população. Para o atleta, é a chance de ter estrutura para crescer. As três partes teriam a ganhar com isso. E, na ponta final disso tudo, temos a chance de tentar formar uma nação com maior capacidade dentro do esporte.

Só não podemos acordar para isso depois que passar o argumento das Olimpíadas para investir.


E para as marcas, como é que fica?
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Erich Beting

As imagens do saguão de guerra que se transformou o embarque do Palmeiras nesta quinta-feira já dizem claramente o quão lamentável são os episódios que têm ocorrido envolvendo torcedores de futebol nos últimos dias. Sim, são casos completamente distintos e que não refletem o pensamento de toda a torcida. Mas não podemos dizer que situações como essa (uso de artefatos para serem “atirados” contra torcedores rivais e/ou intimidação de atletas por parte de torcedores) não sejam relativamente comum no cotidiano dos mais fanáticos e brigões.

Só que a situação começa a parecer tomar uma proporção que beira o inaceitável. Afinal, a pergunta que começa a ser feita hoje é: o quão prejudicial podem ser essas histórias de violência envolvendo os torcedores para o futebol?

A morte de um garoto na Bolívia ou o quebra-quebra no aeroporto em Buenos Aires deixam marcas. Há cerca de 20 anos, a briga de torcidas no campo de jogo criou no imaginário das pessoas a sensação de que não dá para ir com segurança a um estádio de futebol. Convivi boa parte da adolescência com essa disputa dentro de casa. Os pais não queriam, de forma alguma, que eu fosse para os jogos. Em clássico, então, muito menos. Reflexo direto do mau comportamento do torcedor.

Quando os mais brigões perceberam que o prejuízo de imagem para as torcidas era muito grande por causa disso, com aumento de fiscalização da polícia, Ministério Público na cola e outras ações menos tolerantes, passaram a preservar o clima dentro do estádio. Mas, agora, parece que o copo voltou a transbordar mais uma vez. O limite do racional está sendo amplamente ultrapassado.

Só que o momento começa a ser prejudicial até para quem investe no esporte. Em meio à briga de torcedores com atletas, além da camisa da principal torcida organizada palmeirense claramente percebia-se a marca dos patrocinadores do clube. E aí, como é que fica para a empresa essa situação?

Sim, o componente exposição na mídia + paixão (a verdadeira, não a doentia) do torcedor são suficientes para que as empresas “passem por cima” de algumas histórias. Mas, quando cada vez mais elas são afetadas indiretamente pelo mau comportamento de torcedores, a situação pode começar a mudar.

Assim como a violência nos estádios no fim dos anos 80 e começo dos 90 fez com que a ida aos jogos diminuísse bastante, a que começa a aparecer com frequência na atualidade pode afastar as marcas do esporte. Num Brasil com investimentos em alta por conta de Copa e Olimpíada isso é menos perceptível. Mas, no longo prazo, a fuga das empresas pode gerar um prejuízo financeiro irreversível para o futebol.

Ou os clubes acordam para isso, ou será tarde demais para recuperar o dano causado. O primeiro passo seria, em vez de ajudar na existência das torcidas organizadas, começar a cobrar pelo direito de uso da imagem do clube. Hoje, um dos maiores concorrentes em geração de receita para os clubes é a própria torcida, que não paga por explorar a marca do clube e ainda obtém dinheiro do torcedor que teoricamente seria destinado à instituição.